Usinas perdem mão de obra para empreendimentos em grandes centros urbanos
Construtoras investem em formação de pessoal, mas distância da família e desconforto elevam rotatividade em usinas
LEILA COIMBRA
DE BRASÍLIA
A explosão da construção civil tem causado falta de mão de obra nos grandes projetos hidrelétricos.
Empresas investem na formação de trabalhadores para erguer as barragens, mas eles acabam migrando para obras civis em grandes centros urbanos como Rio ou São Paulo, onde não precisam morar em alojamentos e longe das famílias.
Em pleno processo de contratação, projetos como a mega-hidrelétrica de Belo Monte, a ser erguida em Altamira (PA), enfrentam problemas. Até o fim do ano, a hidrelétrica precisará recrutar nada menos que 7.000 trabalhadores. Em 2012, esse número dobrará para 15 mil.
Para suprir as necessidades, os investidores apostam na qualificação de moradores da região. Hoje, estão em formação 150 empregados e está em construção uma escola com capacidade de qualificação de mais 320.
Essas iniciativas, porém, serão insuficientes para fornecer o pessoal necessário nos próximos meses.
“Preferimos investir na formação do pessoal local. Mas certamente teremos de procurar mão de obra em outros locais e até em outras usinas”, diz Marcos Sordi, executivo responsável pela área de recursos humanos em Belo Monte.
Henrique di Lello, diretor da Andrade Gutierrez, construtora líder das obras da hidrelétrica, diz que faltam desde pedreiros até engenheiros. Por isso a empresa está recrutando profissionais acima de 50 anos, principalmente para as funções mais qualificadas.
A usina deve até “canibalizar” os canteiros de outras obras hidrelétricas em andamento. José Renato Ponte, presidente da Ceste, que constrói a usina de Estreito (na divisa entre MA e TO), diz que não consegue manter os operários até o fim da obra.
Estreito começou a gerar energia em abril e agora o grande trabalho será a montagem de equipamentos, e não mais as obras civis, que requerem o volume maior de mão de obra.
No ano passado, no pico da obra de Estreito, eram 10 mil pessoas. Agora, o número caiu para 8.000 e a debandada continua. “Os trabalhadores sabem que o ritmo caiu e já partem para novas empreitadas”, diz Ponte.
NO MEIO DO MATO, NÃO
Um dos problemas enfrentados pelos empreiteiros é o investimento na qualificação desses operários, que depois partem para outras obras ou principalmente para a construção civil. Executivos responsáveis pelo recrutamento reclamam que a rotatividade é alta porque as pessoas não conseguem ficar três ou quatro anos em lugares remotos.
A usina Jirau, em Rondônia, na fronteira com a Bolívia, é um retrato disso.
No mês de março, houve um levante entre os operários, que queimaram ônibus e destruíram os barracões (alojamentos, refeitório e lojas de conveniência da área).
Os trabalhadores reclamavam de baixos salários e das condições precárias do local. A obra foi paralisada.
Fonte: Folha de S. Paulo