A neve no topo do Himalaia parece eterna e adormecida, mas não está. Ela
cresce a um ritmo anual de quatro milímetros devido à pressão das
placas tectônicas, o que aumenta no Nepal o temor de um terremoto.

O fenômeno escapa ao olho humano, mas data de milhões de anos. A placa
indiana desliza com lentidão sob a placa eurasiática, e essa pressão
levanta pouco a pouco as montanhas mais altas do planeta.

“O subcontinente indiano está situado sobre a placa tectônica
indo-asiática, que empurra a europeia a cada ano em direção ao norte”,
disse à Agência Efe o geólogo Sudhir Rajouria, do Departamento de Minas e
Geologia do governo do Nepal.

Thomas Easley/AP
Cordilheira do Himalaia é formada por 2.200 quilômetros de montanhas, sendo o Everest (foto) mais conhecido

Cordilheira do Himalaia é formada por 2.200 quilômetros de montanhas, sendo o Everest (foto) mais conhecido

Há centenas de milhões de anos, o subcontinente indiano estava situado,
segundo os geólogos, onde hoje está a ilha africana de Madagáscar, e
desde este local iniciou sua viagem para o nordeste pelo movimento da
litosfera terrestre.

“Há 50 milhões ou 55 milhões de anos, o subcontinente bateu na placa eurasiática, na qual está o Tibete”, explicou Rajouria.

O impacto entre as duas gigantescas massas terrestres deve ter sido
intenso, afinal criou a cordilheira mais alta da terra: o Himalaia, uma
fileira de 2.200 quilômetros de montanhas onde estão o Everest e grande
parte dos picos mais procurados pelos alpinistas.

DESLIZAMENTO CONSTANTE

A ação das placas pode ser sentida. A cordilheira, segundo Rajouria,
cresce por ano quatro milímetros para o alto, porque a placa indiana
segue deslizando entre 2 e 2,5 centímetros anuais sob a eurasiática.

Na superfíce, a queda-de-braço entre as duas placas tem consequências
potencialmente aterrorizantes no Nepal, onde os especialistas preveem um
“grande terremoto” e a população reage com medo a qualquer notícia de
sismos em outros lugares.

Do turismo associado ao Himalaia, o Nepal obtém uma de suas principais
fontes de receita, mas, ao mesmo tempo, sua situação geográfica na
confluência das duas placas faz com que seja inevitável sofrer algum
grande terremoto ocasionalmente.

“Um avanço acumulado da placa entre três e cinco metros é suficiente
para causar um grande terremoto. Se o empurrão acumulado é de 2,5
centímetros ao ano, em cem anos o avanço é de 2,5 metros”, declarou à
Efe o geólogo Amod Mani Dixit.

Na última década aconteceram dois grandes terremotos associados ao
movimento da placa indo-asiática: um na região indiana de Gujarat em
2001 e outro que causou a morte de 75 mil pessoas no território da
Caxemira, repartido entre a Índia e Paquistão.

O último grande tremor no Nepal ocorreu em 1934, deixando mais de 20 mil
mortos no leste do país, mas o oeste não sofreu sismos significativos
nos últimos 500 anos, ressaltou Dixit, diretor da NSET (Sociedade
Nacional de Tecnologia de Terremotos).

Diferentes estudos identificaram no Nepal um total de 95 falhas ativas
que poderiam funcionar como possíveis epicentros de terremotos e ter
consequências catastróficas. Um terremoto de 8 graus na escala Richter
causaria cem mil mortos e 300 mil feridos em Katmandu e destruiria 60%
das casas, pontes e instalações elétricas, segundo um estudo da NSET.

“A preparação para os terremtos é de pouca prioridade para os políticos.
Existem 28 agências diferentes implicadas e, quando for necessário, a
coordenação entre elas será difícil”, afirmou Dixit.

De acordo com o geólogo, o Nepal, um dos países mais pobres do mundo,
precisa de uma resposta integrada para os sismos, e não tem ferramentas
eficazes nem para prevenir a catástrofe nem para enfrentar suas
possíveis consequências.

O governo aprovou em 2009 uma iniciativa de prevenção batizada como
Estratégia Nacional para a Gestão de Riscos de Desastres, mas ainda não
fez nada para aplicá-la.

Apesar do medo de terremotos, o Nepal também reconhece que a magia da
atividade tectônica está relacionada à sua própria existência.

“O Nepal não existiria sem esse movimento. Provavelmente seríamos parte da Índia ou da China”, reconheceu o especialista.

fonte: Folha de SP