Cuidado, tem alguém seguindo você na internet, e não é seu chefe nem seu namorado. Estúdios e produtoras de cinema têm monitorado redes sociais como Orkut, Twitter e Facebook, além de cooptado blogueiros para disseminar o conteúdo de seus filmes, no intuito de criar um oba-oba na internet e alavancar suas bilheterias.
Dar brindes especiais para blogueiros, chamá-los para pré-estreias exclusivas ou criar ações específicas para um nicho -como promoções para sites que só falam de assuntos femininos- fazem parte das novas estratégias de agências de publicidade e de comunicação. Elas também contratam gente só para cuidar de contas do miniblog Twitter, interagindo com internautas. “Monitoramos o Twitter para ter ideias para campanhas e depois para ver se as pessoas se engajaram, se estão passando adiante”, diz Gustavo Borrmann, diretor de criação da RMG Connect, que tem a conta da Warner Bros. no país.
Muitas das estratégias são importadas dos Estados Unidos. Lá, o burburinho na internet já foi capaz de derrubar ou bombar diversos filmes só neste ano: a comédia “Brüno” teve queda de 40% na frequência entre sua estreia e o dia seguinte, em julho, devido a comentários negativos em sites. E o terror “Atividade Paranormal”, feito com US$ 10 mil, foi de 12 para 2.000 salas de cinema em um mês, atingindo primeiro lugar das bilheterias em outubro, após estardalhaço dos fãs. O filme tem pré-estreia no Brasil à 0h de quinta para sexta.
Mas nem todo barulho é espontâneo. Um caso publicitário recente aconteceu com “O Doce Veneno do Escorpião”, que vem sendo rodado em São Paulo com Deborah Secco como Bruna Surfistinha. A agência Dudinka, especializada em conteúdo para redes sociais, levou cerca de 30 “blogueiros e twitteiros influentes” para o set de filmagens e acabou por transformá-los em figurantes.
Dani Koetz, blogueira do “Ah! Tri Né!”, que recebe 2.000 acessos únicos por dia e pelo menos um convite por semana para pré-estreia de filmes, esteve nas filmagens na boate Love Story. Ela conversou com Deborah, fez um post que pipocou em diversos sites e ainda afirmou que recebeu um cachê de “valor ínfimo”. Eduardo Teixeira, sócio da Dudinka, garante que não pagou nenhum blogueiro. “Eles tiveram a experiência de estar num set”, diz Teixeira. “E as fotos que eles fizeram ainda acabaram vazando, mas vazando entre aspas, foi uma coisa pensada.”
Já a agência Núcleo da Ideia tem uma equipe de dez “animadores de web”, entre jornalistas e publicitários, como Rebecca Leite, 22, estudante de comunicação social. “Tenho que falar a mesma língua dos internautas, não pode ser mecânico”, diz ela, que cuida dos perfis no Twitter dos filmes “Besouro” e “Embarque Imediato”. “Eles querem saber sobre os efeitos especiais, e respondemos tudo, tiramos do material de imprensa ou falamos com a produtora.”
Para Flávio Bidoia, um dos sócios da Núcleo, a campanha na internet ajudou a criar um “anticorpo” contra as críticas negativas que o filme sobre capoeristas recebeu na imprensa tradicional. “Noventa por cento dos blogs falaram muito bem”, diz Flávio, que também está de olho no seu Twitter.
Folha de São Paulo