A Cúpula dos Povos começou sua programação na manhã desta sexta-feira com concorrido discurso do cacique Raoni, carros trafegando em ciclovias do Aterro do Flamengo e o sumiço de mudas recém-plantadas no parque.
Visitantes tentavam se encontrar nas dezenas de tendas espalhadas pelos 1,2 milhão de metros quadrados do aterro.
Mapas improvisados foram colados em painéis espalhados pelo parque, mas, embora coloridos, não tinham legenda nem indicavam o ponto em que estava localizado (o famoso “você está aqui”).
A programação oferecia debates sobre políticas para mulheres, jovens, atos contra a energia nuclear, apresentação de hare krishna, mas os indígenas de diferentes tribos atraíram mais plateia.
A palestra mais concorrida foi do cacique caiapó Raoni, 82, que criticou o desmatamento, a construção de barragens para hidrelétricas e a mineração em terras indígenas “Estou aqui para dizer que estou vivo e lutando”, disse, para uma plateia de cerca de 150 pessoas.
Fora da tenda, diversas tribos comercializavam colares, brincos e cocares com preços que variavam entre R$ 5 e R$ 50.
A indígena guajajara Ana Cleide, do Maranhão, cobrava R$10 para fazer pinturas com tema de sua tribo nas pernas e nos rostos dos visitantes. Usava uma tinta preta produzida com semente de genipapo. “Isso valoriza a nossa cultura”, disse ela.
Uma das que decidiram receber pinturas guajajara foi a estudante Kamila de Souza, 22. “Temos que lutar para reservar isso. Não podemos perder essa diversidade. É muito Brasil. Estou me sentindo ainda mais brasileira”, disse ela, que veio de Paulatina (PR).
O deslocamento pelo aterro pelos visitante é feito a pé, por bicicleta ou carros elétricos, que não emitem gases poluentes. Mas todos tinham que disputar espaços com carros particulares que trafegam pela ciclovia, o que não é permitido em dias normais.
Segundo os motoristas, os veículos automotores são usados para levar material para apresentações nas tendas.
“Acho que isso tinha que ser melhor distribuído. É uma falha na organização”, disse o engenheiro João Picanço, 29, que tentava trafegar com sua bicicleta entre os carros.
Um dos veículos que causaram congestionamento era o carro oficial do prefeito de Tanguá, Carlos Pereira (PP), que participou de um encontro sobre Agenda 21. O veículo permaneceu ligado quando estacionado, emitindo gases poluentes.
Algumas tendas foram instaladas onde antes estavam mudas plantadas para recompor os jardins tombados de Burle Marx. Elas não foram vistas no local.
Fonte: Folha S.Paulo