Luiz Augusto Pereira de Almeida*

 

 

Numerosas empresas brasileiras, embora já taxadas por uma das maiores cargas tributárias do mundo, pagando altos impostos para que o Estado atenda às suas obrigações constitucionais, também contribuem voluntariamente para suprir as deficiências existentes nos serviços públicos. Dentre estes, o segmento que recebe o maior aporte de recursos privados é o ensino, conforme consta do Censo 2014 do Grupo de Instituto, Fundações e Empresas (GIFE).

 

Segundo estimativa da entidade, a iniciativa privada nacional investe cerca de 1,4 bilhão de reais ao ano em Educação Básica. Tal direcionamento de recursos tem foco correto, pois é exatamente nessa etapa, da creche até a última série do Ensino Médio, que a qualidade da rede pública gratuita continua sofrível, dificultando a boa formação técnica e acadêmica da presente e das futuras gerações.

 

Portanto, é relevante a vertente de investimentos em educação no contexto do exercício da cidadania empresarial. Muitas vezes, manter essa contribuição é difícil, principalmente se considerarmos a intermitência de crises na economia brasileira, como estamos enfrentando agora. No entanto, apesar dos obstáculos conjunturais e dos impostos já recolhidos aos cofres públicos, o aporte de dinheiro na educação é um esforço a ser mantido e multiplicado.

 

A persistência é necessária para que os projetos apresentem resultados concretos, que somente aparecem em médio e em longo prazo. Exemplo disso é o Projeto Clorofila de Educação Ambiental, que mantemos há 25 anos em Bertioga, no Litoral Norte do Estado de São Paulo, abrangendo 13 estabelecimentos de ensino municipais, sete estaduais e dois privados. Este ano, estão sendo incorporadas duas escolas indígenas e mais uma particular.

 

Ao longo de todos esses anos, o programa já contemplou mais de 16 mil estudantes de Bertioga. Sua perenidade tem gerado resultados concretos, a começar pela disseminação de hábitos e atitudes que estimulam a conservação ambiental, por meio da implantação de hortas e jardins nas próprias escolas, redução e separação do lixo e reciclagem de materiais. Nos estabelecimentos de ensino, em cuja rotina e eventos são utilizados materiais reciclados ou reusados, também foram instaladas cisternas para coleta de água de chuva. A partir do Clorofila, nasceram uma feira semanal de produtos orgânicos, feiras de trocas e um Coletivo Educador voltado à educação socioambiental da população.

 

Um dos impactos mais importantes está diretamente ligado às mudanças de hábitos alimentares, na rotina das pessoas e na sua relação com o meio ambiente. Em decorrência do grande poder multiplicador de opinião dos alunos no contexto da família, é notável em Bertioga o crescimento do número de indivíduos em busca de alternativas mais sustentáveis para suas vidas. O programa envolve não só os estudantes, mas também professores, diretores e coordenadores das escolas. Os familiares dos estudantes participam de oficinas de culinária sustentável, cursos e plantio de hortas domésticas, jardim e arborização dos estabelecimentos de ensino. Os trabalhadores das creches e de entidades sociais da cidade e a sociedade em geral também estão integrados.

 

Apesar das crises políticas e econômicas, da recessão e de todos os conhecidos obstáculos à atividade empresarial no Brasil, é decisiva a persistência do investimento privado na educação. Afinal, formar novas gerações mais preparadas academicamente e conscientes sobre o significado do compliance, da ética e da sustentabilidade é a nossa melhor chance de mudar o País.

 

*Luiz Augusto Pereira de Almeida é diretor da Fiabci/Brasil e diretor de Marketing da Sobloco Construtora.