Imagem de arquivo mostra foco de incêndio em área da floresta amazônica

Pesquisa recente apresentada pela ONG Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) aponta que, apesar da queda no desmatamento da Amazônia na última década, a degradação da floresta manteve-se praticamente estável entre 2000 e 2010, com picos em 2006 e em 2008.

A degradação florestal, segundo o pesquisador sênior do Imazon, Carlos Souza Júnior, é a destruição parcial de um trecho da mata. Ela se caracteriza pela perda de vegetação com a ação de madeireiros, queimadas ou pela abertura de estradas, sem haver desmate completo, aponta ele.

Segundo os dados registrados pelo Imazon, o total de área desmatada na Amazônia em 2001 foi de 17.203 km², número 213% maior do que o registrado em 2010, de 5.496 km². Já o tamanho da área florestal degradada era de 4.726 km² em 2001, número 26,6% maior do que o identificado em 2010, de 3.731 km².

“A curva da degradação tende a ser estável, com alguns picos, principalmente em 2008”, afirma o pesquisador. Os números da degradação ano a ano, entre 2001 e 2010, são bem próximos, com exceção dos picos. Júnior ressalta, no entanto, que ao analisar a taxa anual média de degradação, houve até mais destruição entre 2006 e 2010 (5.536 km² por ano) do que entre 2001 e 2005 (4.627 km² por ano). Isso pode caracterizar um ligeiro “aumento” do problema na Amazônia, sugere o estudo do Imazon.

A ONG usou dados do satélite Landsat para fazer um estudo independente da destruição da Amazônia. As informações são diferentes das fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que divulga um balanço anual do desmatamento, o chamado Prodes. Por isso, os dados não podem ser comparados.

Mesmo rigor
O combate à degradação florestal tem que ser feito com o mesmo rigor que as ações contra o desmatamento, afirma Júnior, que coordena o programa de monitoramento da Amazônia da ONG.

Ele explica que os índices são separados, ou seja, além de haver 169 mil km² de floresta desmatada no total entre 2000 e 2010, há 50,8 mil km² de área degradada, somando 219,8 mil km² de área total ou parcialmente destruída – pouco menos do que o tamanho do estado de São Paulo, com 248,2 mil km², segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Só a degradação no intervalo de uma década, de 50,8 mil km², equivale a quase o tamanho do Rio Grande do Norte (52,8 mil km²). O número corresponde a 30% do total de área desmatada no mesmo período.

“Uma recomendação que a gente faz é que o governo federal faça um acompanhamento maior [da degradação] do que está sendo feito até agora”, diz Júnior. Ele ressalta que a degradação pode ocorrer de forma recorrente em um trecho da floresta, com ação contínua de madeireiras, por exemplo, até que haja uma perda irreparável da vegetação e esta área se torne desmatada.

Picos
Os picos de degradação florestal ocorreram em 2006, quando 6.483 km² da Amazônia foram atingidos, e em 2008, quando foram afetados 8.396 km² da mata. Os números somados equivalem a quatro vezes o total degradado em 2010, último ano em que o Imazon fez o registro.

Os picos “são períodos que coincidem com uma estiagem maior, entra na questão das queimadas nas florestas, tem um impacto de degradação mais expressivo”, ressalta Júnior. Degradar a floresta, diz ele, empobrece a biodiversidade e faz com que a região corra mais risco de ser desmatada.

Os estados onde ocorreu maior degradação florestal foram Mato Grosso, com 24,5 mil km² de área afetada em uma década, e o Pará, com 16,2 mil km². Na soma, os dois respondem por 40,7 mil km² de floresta degradada, ou 80% do total acumulado entre 2001 e 2010 (50,8 mil km²).