O projeto Ecossível é um programa de capacitação de destinos ecoturísticos para receber as pessoas portadoras de deficiências físicas, encabeçado pela Freeway, empresa que, em 1983, criou o conceito de ecoturismo no Brasil, com o intuito de viajar e descobrir a natureza de nosso país.
A filosofia do projeto Ecossível nasceu junto com a própria Freeway. Atenta ao tema da inclusão, enxergando as deficiências como detalhes a serem tratados com naturalidade, a empresa tinha por objetivo desenvolver no Brasil o nicho das viagens para pessoas portadoras de deficiência, proporcionando um atendimento especializado, técnico e humanizado.
No ano de 2004, Sonia Werblowsky, uma das fundadoras da Freeway, resolveu enfrentar o desafio de integrar oficialmente os deficientes físicos nos programas da empresa. Contratou uma esportista paraplégica para assumir o então criado Departamento Acessível. A meta era capacitar os destinos de ecoturismo brasileiros a receber as pessoas com deficiência física de forma inclusiva. Assim, essas pessoas poderiam usufruir das maravilhas naturais do país, quebrando barreiras e preconceitos que inibiam sua participação na sociedade brasileira. O ecoturismo seria um grande laboratório da disseminação da cultura da inclusão.
Para operacionalizar o projeto Ecossível, foi constituído um grupo de trabalho formado por dois sócios-diretores da Freeway, a coordenadora do Departamento Acessível, Adriana Braun, uma pessoa com tetraplegia convidada e a médica Bete Saito, do Departamento de Reabilitação do Hospital das Clínicas da USP.
A primeira capacitação ocorreu na comunidade turística da cidade de Itacaré, na Bahia, e depois na Península de Maraú. Foram realizadas reuniões com pousadeiros e guias, que eram orientados a respeito dos cuidados que se deve tomar para receber as pessoas com deficiência física e dos preconceitos a serem combatidos. Também foram abordadas questões como o transporte, o auxílio em banhos no mar e no rio, uso de banheiro e a locomoção em trilhas (desenvolveu-se uma cadeirinha especialmente para este uso), além de passeios de rafting e canoa. Em seguida, foram capacitados outros destinos, como Bonito, Pantanal, Lençóis Maranhenses e Fernando de Noronha.
Após as primeiras experiências, feitas com recursos financeiros e humanos da própria Freeway, o plano previa a atração de apoiadores governamentais, como o Ministério do Turismo, paragovernamentais, como o Sebrae, e privados, como companhias aéreas, a fim de reproduzir a metodologia no maior número possível de destinos de ecoturismo no país.
Em princípio, a aquisição de viagens pelas pessoas portadoras de deficiência não alcançou os resultados almejados. Uma análise feita pela empresa mostrou que um dos fatores deste aparente insucesso era a histórica falta de experiência e coragem que os portadores de deficiência brasileiros tinham para viajar de forma independente de seus pais ou cuidadores.
Para atenuar esse receio, a Freeway adotou uma estratégia corretiva, passando a preparar destinos mais próximos a São Paulo. Com duas a quatro horas de percurso e duração de um dia, a intenção desses roteiros era permitir que os viajantes pudessem dormir em suas próprias casas, em vez de ficarem afastados de seu núcleo familiar por uma semana, o prazo médio da maioria dos pacotes.
A Ilha Anchieta foi o primeiro destino a seguir essa estratégia. A viagem de estréia contou com 40 passageiros, dentre eles 12 portadores de deficiência física, sendo oito cadeirantes, uma pessoa com deficiência visual e três com nanismo. O evento foi um grande sucesso de integração, já que 28 pessoas sem deficiência ajudaram a transportar os cadeirantes durante todo o passeio.
Após o primeiro sucesso, foram surgindo outros roteiros, com destinos e durações variáveis. Aos poucos, foi-se percebendo uma crescente aceitação das pessoas portadoras de deficiência por viagens mais longas e para lugares cada vez mais distantes.
Revista Ecoturismo