O Ministério do Meio Ambiente quer aproveitar a experiência da Itaipu Binacional na Bacia Hidrográfica do Paraná 3 (BP3), área de influência do reservatório, para incrementar as ações socioambientais desenvolvidas pelo governo federal em outras regiões do País, como o Vale do Rio São Francisco. O principal interesse é o Programa Cultivando Água Boa (CAB), considerado pelo ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, “um dos melhores programas de recuperação de nascentes que temos no mundo”.
O acordo de cooperação técnica foi assinado nesta sexta-feira (18), em Concórdia do Oeste, distrito rural de Toledo (Paraná), pelo ministro Sarney Filho e pelo diretor-geral brasileiro de Itaipu, Luiz Fernando Leone Vianna. Também estavam presentes o diretor-presidente da Agência Nacional das Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo, diretores e técnicos da usina e prefeitos da região.
“Eu acho que temos sim que replicar [o CAB]. A minha vinda aqui vai servir para isso. Vou determinar aos técnicos do Ministério do Meio Ambiente e da Secretaria de Recursos Hídricos para que eles se aproximem mais do programa. Nós temos a boa vontade de toda a diretoria de Itaipu e tenho certeza de que esse exemplo será replicado e que vamos utilizar as tecnologias que estão sendo aplicadas aqui”, afirmou o ministro.
Sarney Filho disse também que irá propor ao ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, que leve a metodologia do Cultivando Água Boa para outras hidrelétricas brasileiras.
Antes de assinar do documento, ainda em Foz do Iguaçu, Sarney Filho assistiu a uma apresentação sobre os principais programas socioambientais da usina, feita pelo diretor de Coordenação, Hélio Gilberto Amaral. O diretor de Coordenação do Paraguai, Pedro Domaniczky, também acompanhou. O ministro elogiou as iniciativas de Itaipu e destacou o trabalho de reprodução da oncinha Cacau, a primeira nascida no Refúgio Biológico Bela Vista, depois de 14 anos de tentativa de reprodução.
Em seguida, Sarney Filho sobrevoou projetos do CAB na região – como o corredor da biodiversidade Santa Maria (que faz a conexão entre o Parque Nacional do Iguaçu e a faixa de proteção do reservatório de Itaipu) e a microbacia do córrego Bonito, onde há projetos de adequação de estradas rurais, conservação de solos e abastecedouro comunitário.
O ministro e comitiva também sobrevoaram a comunidade indígena Tekoha Añetete, em Diamante D’Oeste, e conheceu em terra o trabalho de recuperação de nascentes em São José das Palmeiras. “Fiquei vividamente impressionado com o trabalho de recuperação de nascentes”, afirmou.
Segundo ele, o CAB ajuda a resolver um problema que não é só brasileiro. Sarney Filho comentou que o aquecimento global é hoje uma realidade incontestável e citou que os últimos dez anos foram os mais secos da história, desde que começaram as medições. Como exemplo, falou da situação do São Francisco, considerado o rio da integração nacional, que hoje tem quase dez quilômetros de água salgada invadindo o seu leito.
“Aquela preocupação que tínhamos algum tempo atrás, da qualidade da água, continua. Mas agora a gente acrescentou outra preocupação: a quantidade da água. Está faltando água, o regime de chuvas está modificado, e no Brasil a gente precisa cada vez mais preservar os serviços ambientais que a natureza presta. Principalmente na geração de água, tão importante para o agronegócio e para o desenvolvimento do nosso País”, comentou.
Vianna lembrou que, semana passada, Itaipu assinou acordo com o governo do Paraná para utilizar a metodologia do CAB na recuperação do Rio Iguaçu, um dos mais importantes do Estado. Segundo ele, o reconhecimento do Ministério do Meio Ambiente demonstra que os investimentos da empresa na área estão no caminho correto.
Guillo acrescentou que a metodologia do CAB já foi levada para outros países da América Latina – como Guatemala, México, República Dominicana, Argentina, Uruguai e Paraguai –, mas ainda é pouco difundida no Brasil. Há convênio em andamento com o Estado de Minas Gerais e tratativas com São Paulo, Mato Grosso e Distrito Federal.
Após a visita à região, o ministro fez uma visita à usina hidrelétrica de Itaipu, encontrou o técnico da margem paraguaia da usina, Jose Maria Sanchez Tilleria, e e atendeu a imprensa. Sarney Filho também plantou uma árvore no Bosque dos Visitantes.
Sobre o programa
Hoje, o Cultivando Água Boa desenvolve 20 programas e 65 ações nos 29 municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Paraná 3, com população estimada em um milhão de pessoas. São mais de dois mil parceiros envolvidos nos trabalhos.
Amaral antecipou que a meta é expandir o programa para todos os 52 municípios da Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (Amop), mais dois da Coordenadoria das Associações Comerciais e Empresariais do Oeste do Paraná (Caciopar), além de Altônia (região Noroeste) e Mundo Novo (MS) – totalizando 56 municípios.
As ações do CAB vão desde a recuperação de microbacias e das matas ciliares até programas de educação ambiental em escolas públicas, oficinas de alimentação saudável e campanhas que destacam a importância do consumo consciente.
Todas as atividades têm como base documentos planetários, como a Carta da Terra, o Protocolo de Kyoto, a Agenda 21 e, mais recentemente, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), agenda mundial adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU), da qual o Brasil é signatário.
Em 2015, o CAB venceu a 5ª edição do Prêmio Água para a Vida 2015, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), na categoria “Melhores práticas em gestão da água”.
Fontes de financiamento
Ainda em Toledo, Sarney Filho e Vianna lançaram o caderno “Fontes de Financiamento para Educação Ambiental”, uma publicação com 189 páginas detalhando quais são os principais fundos e instituições, públicos ou privados, que têm linhas de apoio para ações voltadas para o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.
“Os principais obstáculos para o acesso aos recursos são a falta de conhecimento e a dispersão da informação sobre as fontes de financiamento destinadas a políticas ambientais”, escreveu o ministro, na apresentação do trabalho.
“Nosso desejo é que esta publicação seja uma ferramenta importante para que os gestores públicos tenham maior capacitação para elaborar e implementar suas propostas e possam, assim, viabilizar a melhoria da qualidade de vida nos seus territórios”, completou.
A parceria com Itaipu prevê outras publicações conjuntas e ainda a implantação, no Oeste do Paraná, do Programa Nacional de Gestores em Educação Ambiental. Até setembro, por exemplo, deverão ser lançados vídeos sobre os ODS para serem utilizados na rede escolar.
“Queremos que essa parceria [com Itaipu, no Oeste do Paraná] seja referência para que outras empresas assinem acordos semelhantes”, disse a diretora de Educação Ambiental do ministério, Renata Maranhão.
A Itaipu
Com 20 unidades geradoras e 14.000 MW de potência instalada, a Itaipu Binacional é líder mundial na geração de energia limpa e renovável, tendo produzido, desde 1984, mais de 2,4 bilhões de MWh. Em 2016, a usina retomou a liderança mundial em geração de energia, com a marca de 103.098.366 MWh gerados. A hidrelétrica é responsável pelo abastecimento de 17% de toda a energia consumida pelo Brasil e de 76% do Paraguai.
Crédito das fotos AM: Alexandre Marchetti/ Itaipu Binacional
Crédito das fotos RF: Rubens Fraulini/ Itaipu Binacional