Fabio Feldmann*

O setor da construção civil tem ganhado força e importância no cenário internacional no que se refere à busca de sua sustentabilidade e a transformação de práticas e métodos ultrapassados. O setor, que poderia ser considerado um dos setores mais despreocupados com a questão ambiental e seus reais impactos no planeta, se vê agora diante de uma “onda verde”, com a explosão de inúmeras publicações sobre o assunto; a realização de vários eventos e seminários para difundirem o tema, enfim, uma série de iniciativas que visam, acima de tudo, disseminar conhecimento e gerar o real engajamento do setor como um todo: desde produtores de matéria-prima até as próprias construtoras.

A construção civil sustentável, como é chamada essa nova tendência, faz uso de materiais ecologicamente corretos e eficientes e de soluções tecnológicas inteligentes para promover o bom uso e a economia de recursos, como água e energia elétrica; a redução da emissão de gases de efeito estufa, tanto na produção de matéria-prima quanto na operação normal das edificações; a melhoria da qualidade do ar no ambiente interno e o conforto de seus moradores e usuários. Telhados verdes e sistemas de ventilação que imitam colméias são algumas das inovações que os chamados green buildings apresentam para atenderem aos quesitos acima expostos e economizarem recursos e energia em sua construção e operação. A fim de garantir que tais empreendimentos sejam elaborados conforme regras claras de sustentabilidade estão sendo criadas algumas certificações, como a norte-americana LEED (Leadership in Environmental and Energy Design) e a francesa HQE (Haute Qualité Environnementale).

No Brasil, a iniciativa mais importante e recente no assunto foi a criação do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável – CBCS (www.cbcs.org.br), que surgiu da necessidade de integrar boas práticas de sustentabilidade e criar uma maneira estruturada de interagir com outros setores, além de promover o desenvolvimento sustentável por meio da geração e disseminação de conhecimento e da mobilização da cadeia produtiva da construção e seus consumidores. Para tanto pretende-se desenvolver metodologias adequadas à realidade brasileira para avaliação da sustentabilidade de serviços e empreendimentos e promover a elaboração de publicações e referências técnicas direcionadas às empresas e profissionais do setor.

A criação de tal Conselho denota o amadurecimento do setor no Brasil, mas é necessário salientar que em um país como o nosso, no qual 77% das construções são auto-geridas, ou seja, acontecem sem a participação de construtoras ou agentes públicos, é necessário que as mudanças e transformações sejam devidamente regulamentadas, para que realmente atinjam o maior número de empreendimentos possível.

Contudo, é possível afirmar que o maior avanço a ser reconhecido atualmente é o engajamento deste setor, antes inerte, e que é capaz de gerar transformações sem precedentes na luta pela sustentabilidade do planeta. A mistura correta entre uma apropriada regulamentação governamental, um aprimoramento do uso de tecnologias para economia energética e uma mudança comportamental pode reduzir substancialmente as emissões de CO2 do setor, que acumula cerca de 30 a 40% do uso global de energia, segundo o relatório Buildings and the Climate Change 2007, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O mesmo relatório, citando o exemplo da Europa, diz que mais de um quinto do consumo de energia e mais de 45 milhões tonelada de CO2 poderiam ser economizados por ano até 2010 com a aplicação de medidas mais ambiciosas para prédios novos e já existentes.

É preciso, portanto, que tal preocupação seja mais que apenas uma “onda” e que demonstre a real mudança de postura do setor, que tem papel fundamental para assegurarmos a sustentabilidade de nosso planeta.

*Fabio Feldmann é consultor, advogado, administrador de empresas, secretário executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade e fundador da Fundação SOS Mata Atlântica. Foi deputado federal, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Dirige um escritório de consultoria, que trabalha com questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável.