Para o ex-presidente americano (1993-2001) Bill Clinton, o problema da mudança climática só poderá ser resolvido quando as soluções em questão forem economicamente interessantes para indivíduos, empresários e países. Ele também considera o etanol brasileiro superior, mas diz que produzi-lo sem agredir o ambiente é um desafio ao país.

“Se não alterarmos o ritmo de emissão de gases-estufa, em 2100 a temperatura da Terra terá subido 9C. Teremos, então, que retirar entre 65 milhões e 100 milhões de pessoas das zonas costeiras”, alertou. “Podemos vencer esse desafio, mas isso só será possível se encontramos um jeito economicamente viável de fazê-lo.” Aí também está a chave para reduzir as instabilidades e a desigualdade do mundo moderno, diz.

Outra medida econômica que julga crucial contra a mudança climática é “colocar um preço” nas emissões de carbono. “Assim, a preocupação com esses encargos favoreceria o álcool da cana-de-açúcar. Estados americanos mais progressivos, como a Califórnia, podem achar que é mais viável importar etanol”, afirmou.

Hoje, os EUA taxam o álcool brasileiro em US$ 0,54/galão, inviabilizando a importação.

Clinton participou, ontem, do fórum “Ethanol Summit 2009”, realizado por empresas produtoras de álcool combustível em São Paulo.

Após deixar a Presidência dos EUA, ele criou uma fundação que leva o seu nome e defende variadas causas, como o tratamento da Aids, o combate à obesidade infantil e o desenvolvimento ecologicamente sustentável.

Clinton disse não ter dúvidas de que o etanol de cana é o mais eficiente, mas alertou para que o país não eleve o seu próprio nível de emissão de gases-estufa caso a expansão da cultura da cana desloque os produtores de soja, levando-os a desmatar a floresta tropical. “O país precisa resolver esse dilema local antes de pensar em oferecer soluções globais”, frisou Clinton.

Sobre a crise, diz que serviu para mostrar como o mundo é “interdependente”. Por isso, todos precisam se ajudar na luta contra o aquecimento global e as desigualdades sociais. “As turbulências que começaram com os loiros de olhos azuis nos EUA -como disse o presidente Lula- logo depois já eram dos loiros de olhos azuis europeus e, no final, dos loiros de olhos azuis da Islândia”, brincou.

Denyse Godoy
da Folha de S.Paulo