Os efeitos do desmatamento na nova fronteira agrícola do cerrado –formada pelo Maranhão, Tocantins, Piauí e pela Bahia– são menos conhecidos e estudados pela ciência do que em outras áreas do bioma.

Os quatro Estados formam a parte norte do cerrado, batizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento como Matopiba.

O Laboratório de Ecologia e de Ecossistemas da UnB (Universidade de Brasília) está fazendo um levantamento sobre os artigos científicos que tratam do estoque e fluxo de carbono, e também de nitrogênio e fósforo –elementos químicos importantes para a incorporação de carbono na vegetação.

Das 105 localidades estudadas, apenas três estão no Matopiba; 54 em outras áreas do cerrado; 20 na Amazônia; 13 nos pampas; 12 na mata Atlântica; e quatro na caatinga.

O dado é preliminar e diz respeito a 91 artigos científicos levantados até agora, mas indica que há menos conhecimento sobre os efeitos da degradação ambiental na região que, segundo o Ministério da Agricultura, deverá assistir nesta década a um avanço na produção de algodão, frango, carne bovina e soja, além de celulose e papel.

O motivo da atração pelo Matopiba é o preço das terras, mais baratas do que, por exemplo, áreas de Mato Grosso e de Goiás, onde já há intensa atividade agropecuária.

Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia foram responsáveis por 65% do desmatamento do cerrado verificado pelo Ministério do Meio Ambiente entre 2009 e 2010, o equivalente a 4.200 quilômetros quadrados. O bioma é um dos mais ameaçados do país.

Em 2010, já havia perdido 48,5% da cobertura original –cerca de 1 milhão de quilômetros quadrados. O desmatamento é a principal causa de emissão de dióxido de carbono no Brasil, que provoca a diminuição da camada de ozônio e as mudanças climáticas.

De acordo com a coordenadora-geral de Gestão e Ecossistemas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Mercedes Bustamante, também professora do Departamento de Ecologia da UnB, a exploração do cerrado ao Norte poderia ser diferente da que se fez na parte ao Sul, mas por enquanto não há uma “cesta de incentivos positivos” para evitar o desmatamento incontrolado, como a dedução de encargos, os incentivos tecnológicos para o aumento de produtividade e o pagamento de serviços ambientais.

O Poder Público, segundo a coordenadora, tem menos recursos para proteger o cerrado (como unidades de conservação e extensas áreas de preservação obrigatória) do que para a Amazônia. Na região, com muitas propriedades privadas rurais, é preciso dialogar com o agronegócio. “Se não trouxer o setor produtivo, como vamos racionalizar o uso das águas?”, pergunta.

O pesquisador do Laboratório de Ecologia de Ecossistemas da UnB, Alexandre de Siqueira Pinto, explica que a destruição da vegetação no cerrado é fundamental para o regime de chuvas e mesmo uma área não degradada pode sentir os efeitos da destruição.

Ele lembra que o desmatamento diminui a capacidade de absorção da água pelas plantas, o que reduz a evaporação, afetando o ciclo hidrológico e a capacidade de absorção de carbono. “O carbono não existe independentemente de outros fatores”, salienta.

A pesquisa sobre o cerrado envolve cerca de 15 pesquisadores da UnB, da UFG (Universidade Federal de Goiás) e da Universidade de New Hampishire (Estados Unidos) e faz parte do INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) para Mudanças Climáticas –uma rede com mais de 90 grupos de pesquisa de 65 instituições e de universidades brasileiras e estrangeiras, com mais de 400 participantes.

 

Fonte: Folha.com