Nas últimas semanas, com temperaturas em torno de -17ºC, Berlim sofreu com neve e vento glacial nos dias mais curtos do inverno. Mas os berlinenses, verdadeiros bárbaros, se adaptam ao mau tempo com muita criatividade e bom humor.

Um inverno que ocupa quase a metade no ano não deixa muito tempo para as três outras estações. A partir do mês de outubro, a vontade de sair e badalar por Berlim diminui (além do frio, começa a anoitecer às 16h30 e a maioria dos prédios não tem elevador).

O berlinense começa a viver um período letárgico e se sentir como uma extensão do ninho aconchegante e quente que é a sua casa (às vezes ainda aquecida por carvão).

É a época em que os corvos tomam conta dos céus e os ratos procuram desesperadamente um pouco de calor. Como num filme de Fritz Lang (1890-1976), a cidade ganha aparência gótica, triste e cinza, e entrar no buraco quente do metrô é uma das únicas soluções rápidas contra essa violência climática.

Gero Breloer – 3.fev.12/Associated Press
Placas de gelo cobrem o rio Spree, próximo ao Reichstag, onde fica o Parlamento alemão, em Berlim

“DAS IST BERLIN!”
Mas os locais não desanimam nunca e mantêm uma rotina adaptada ao frio (capaz de arrancar lágrimas do rosto), assunto principal dos noticiários televisivos e da timeline do Facebook.
Vestidos com três camadas de roupa (ceroula, calça, meias de lã, segunda pele, blusa, casaco, chapéu e cachecol; tá bom ou quer mais?) e muita coragem, são vistos sozinhos ou em bandos nos vários cafés da cidade, desses que são um misto de brechó da RDA (antiga Alemanha Oriental) com toques de design contemporâneo (isso é Berlim, no final das contas).

A moda agora é tomar latte macchiato com bolo. Um dos cafés é o Sing Blackbird (singblackbird.com), no bairro de Neukölln, misto de pâtisserie, brechó, livraria e ponto de encontro de hipsters. Para acompanhar, uma boa leitura, como “Helden”, de Tobias Rüther, obra que descreve o período musical berlinense (1977 a 1979) de David Bowie.

Opção noturna: os bares da capital alemã estão sempre abertos e lotados de gente loira com bochechas rosadas em busca de drinques para esquentar a alma. Nesse espírito, há o bar russo Kvartira nº62, que serve porções de pepino em conserva para acompanhar shots de vodca, a € 4,50 (www.myspace.com/kvartiran62).

Na linha esportista, as dicas são as saunas finlandesas ou a piscina coberta do Badeschiff sobre o rio Spree (agora congelado), com opções de massagem e bar, além de gente pelada que tenta a todo custo escapar do frio (arena-berlin.de; adultos, € 12, e crianças, € 8, por três horas). Detalhe: o alemão é bem liberal, e as saunas normalmente são mistas.

Para os aventureiros, há patinação de graça nos lagos congelados. Um deles é o Rummelsburger, na região central. Outra ideia para os dias de frio é se enfiar em um dos cinemas exibindo filmes da Berlinale, festival internacional que vai até o dia 19, com 395 filmes, a maioria com legendas em inglês.

fonte: folha de sp