Para analistas franceses, deve ganhar impulso o discurso da Frente Nacional, de que classe política não presta
Marine Le Pen, que vai tentar Presidência em 2012 com plataforma populista, deve ser principal beneficiada
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA
A FOLHA, EM PARIS
O escândalo envolvendo o diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, deve beneficiar a extrema direita francesa nas eleições presidenciais de 2012.
Analistas ouvidos pela Folha consideram que a candidata da nacionalista Frente Nacional, Marine Le Pen, que já vem subindo nas pesquisas de intenção de votos, pode ganhar mais força.
“O caso vai alimentar o discurso populista e simplista da Frente Nacional de que toda a classe política não presta”, explica Stéphane Monclaire, professor da Universidade Sorbonne.
A prisão causou um terremoto político na França. A detenção altera completamente a corrida eleitoral no país, já que Strauss-Kahn era apontado como um dos principais presidenciáveis do Partido Socialista.
Para Monclaire, DSK, como é chamado na França, não tem mais nenhuma chance de se apresentar às presidenciais.
“Sua candidatura ficou impossível depois que o tribunal de Nova York negou o pedido de fiança de seus advogados. Ele não poderá anular os efeitos negativos sobre sua imagem, mesmo se for inocentado” afirma.
O cientista político Stéphane Rozès considera que se Strauss-Kahn for condenado, é possível que os franceses queiram virar a página e deixar para trás um certo tipo de personalidade política.
“Eles devem se voltar para candidatos mais modestos, mais próximos do estilo de vida do cidadão comum.”
Daniel Boy, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, também acredita na possibilidade de que a Frente Nacional saia reforçada.
Para ele, o escândalo envolvendo Strauss-Kahn reforça a “aversão à política” e a “falta de confiança” de parte da população nos políticos e partidos tradicionais.
DISPUTA INTERNA
Em entrevista coletiva ontem de manhã, o porta-voz do Partido Socialista, Benoît Hamon, disse que a legenda vai manter inalterada a data fixada para as primárias presidenciais, em outubro.
A secretária-geral do partido, Martine Aubry, se reúne hoje com a direção para analisar as consequências da detenção de Strauss-Kahn.
Uma delas deve ser o acirramento das disputas dentro da legenda. A disputa agora deve se acirrar entre Aubry e seu antecessor no cargo, François Hollande, que vem subindo nas pesquisas de opinião.
Fonte: Folha de São Paulo