Aqui quem fala é da Terra, mais especificamente de São Paulo, Capital, Brasil. Precisamos da ajuda possível, pois temos de agir rapidamente, amigos de fora, e terráqueos de todos os tipos, cores, formatos e partes que vivem e passam por aqui! Devemos garantir nosso Futuro, pensando, agindo, prevendo, melhorando a nossa cidade. Para não lamentarmos depois, como vemos depois de cada ocorrido.

456 anos. Não é mais uma criança. E nem pode ser uma daquelas do tipo que só crescem, crescem, e ficam abobalhadas, inertes. São Paulo é uma cidade que não pode ficar de perninhas cruzadas tomando café no aeroporto e esperando que suas pessoas continuem falando como Nova York é linda, “resolvida” , que aquilo lá é que é cidade. Não vamos mais esperar catástrofes e mais desgraças para acordar, por favor!

A idéia é arregaçar as mangas. Usar o coraçãozinho vermelho, que é simples e legível. Dar um passo, um pulinho, três gritinhos. Vamos brincar? Todo mundo pega um papel. De um lado, enumera tudo o que ama na cidade; de outro, o que odeia, ou pelo menos acha que precisa ser mudado. Dez coisas de cada lado. Pronto. Combinado. Agora essa fica sendo a sua missão – preservar o que gosta, e lutar para melhorar o rol de necessidades. Posso quase garantir que as listas serão iguais para milhões de nós.

Na primeira coluna você deve ter citado algo do tipo que adora as possibilidades que São Paulo oferece – sua diversidade (embora pouco as aproveite). Na outra coluna certamente reclamou do ar, do trânsito, das enchentes, do lixo, da sisudez, agressividade, falta de verde, preços muito altos, do barulho ensurdecedor, dos flanelinhas pentelhos, da falta de espaços de lazer, da falta de solidariedade e de camaradagem.

Um monte de coisas que dá para você participar e melhorar. Você deve ter visto na tevê o potencial maléfico de um saquinho de plástico tapando um bueiro; principalmente se o lixo das ruas para lá tiver escoado. E o lixo está lá, de alguma forma. Ou que tal tentar a gentileza de atos como deixar passar, sorrir, dizer bom dia, tentar ser mais humano? Colaborar com seu entorno, aumentando o raio de ação.

Aprendi na minha profissão o tudo o muito que a Comunicação é capaz. Quando bem feita, cria o encantamento, a necessidade de consumo, as vontades; e o seu poder de aglutinação e liderança. Por que não fazemos São Paulo virar uma moda boa? Com uma concorrência saudável, articulada. Tipo “O que é que São Paulo tem?” “Tem tudo para você, meu bem”. E nada de só falar que São Paulo tem pressa, é boa para quem trabalha. Porque aqui também tem cantos muito bons para se largar, para passear, onde ir bater pernas e fazer nada. Encante-se novamente, procure sua toca, ame o chão que pisa e que te dá o que comer. São Paulo precisa de amor, vai por mim!

Leve seus filhos para conhecerem mais a cidade, seus caminhos. Faça a brincadeira de ser turista por um dia – pode ser melhor do que ficar dentro do carro preso no trânsito da descida para a praia. Só quem conhece, respeita. E a gente vai precisar dessa turminha do Futuro. Dentro de bunkers dos condomínios, escolas, clubes e shoppings elas só olham para o próprio umbigo.

Disso não posso reclamar. Como jornalista, sempre gostei de trabalhar na árdua área de cidades, onde a gente ganha calos nos pés, bolhas nas mãos e a coragem de presenciar de tudo. Mas isso deve ter sido influência de quando era pequena. Meus pais, na simplicidade do pouco que podiam, costumavam me levar para conhecer o mundo. Eu encostava o nariz na janela e viajava, literalmente! Até hoje faço isso: quando pego uma carona, aproveito, leio tudo que é placa, vejo as gentes, os carros, os lugares, os nomes estrambóticos.

Assim, desde menina conheci a Serra da Cantareira, o restaurante que tinha patos, os cisnes da Aclimação, as lasanhas do Brás, o Jardim Botânico, o Horto Florestal, o Zôo, depois, o Simba Safári. As festas juninas do Mirante do Morumbi, o Pico do Jaraguá. Conheci Interlagos e sua Represa de Guarapiranga de todos os lados, o pobre e o rico. Lá tinha hidroavião. Imaginem que eu andava de cavalo (alugado por hora) lá! Tinha um parque de diversões na Avenida Santo Amaro. Tinha pedalinho aqui pelas redondezas. Tinha…

A Rua Augusta se impunha, com fama correndo o mundo. Íamos ver os ricos construindo mansões e assim foi que vi São Paulo crescendo. As grandes tevês, Record, Tupi, Excelsior, ali pertinho. A moda, a novidade, anel que era uma peça de fusca, calças de duas cores, arte, música, movimentos, rock, jazz.

Tinha a Cidade Universitária! Aos domingos, podia brincar; minha mãe, gordinha, adorava descer o morro com folhas de bananeira, ali na Zoologia, perto da FAU. Às vezes parávamos no prédio da História; outras, tomávamos sorvete na Praça da Reitoria. Ali aprendi a guiar – uma tampinha, menor do que a direção do carro do meu impaciente e rigoroso pai que acabou me ensinando direção defensiva – coisa muito importante em São Paulo. Assim, aprendi também a respeitar a Universidade, hoje largada, restrita. Era muito mais do que só o Ibirapuera. Já viu como o Parque Trianon, na Avenida Paulista, está bonito? Soube que o Aquário de São Paulo está superlegal,com água doce e salgada. Aqui, até cemitério tem histórias, tem belezas, tem arte.

Está tudo aí, esperando uma chance para se mostrar e reviver. Assim como a vida 24 horas, a Sopa de Cebola, o 1, 2 Feijão com Arroz. Saia mais e ande mais nas ruas, troque o shopping Center pelas quebradas. Se der, vá andar no centro velho na tarde de um domingo.

Pela nossa segurança, a de todos, vamos ocupar novamente as ruas de São Paulo, mais e mais, como está acontecendo na Avenida Paulista, animada de dia e de noite. Se estivermos em maior número nos locais, as autoridades cuidarão de se fazer presentes. Novamente teremos música nas praças. Dá tristeza ver praças e parques antes livres, hoje todos gradeados. Locais presos do lado de dentro de suas belezas. Se você viu como era antes, precisa contar para quem estiver do seu lado acreditar. Sim, o mundo era outro. Mas já está na hora de trocar de novo.

Essa campanha precisa de um patrocínio gigante, de todos nós, e do nosso esforço. Pense o que ganhará com isso, se ajudar a poder contar com seu apoio. Vai, seu lugar será valorizado! Não há no país lugar mais cosmopolita do que São Paulo. Isso não é bom nem ruim. É só qualidade que pode e deve ser usada.

São Paulo, é pique, é pique, é pique, é pique… É hora! É hora! Ra-tim-bum!

Marli Gonçalves, jornalista, paulistana. Conclama quatrocentões para se assumirem, antes que sejam só representantes da elite do nada. Vai pensar outras sugestões. Mas começa de forma geral: todos os dias lembre, onde quer que esteja, que você é um enfeite do mundo. E isso requer responsabilidade.