Obama acaba com expulsão de jovens que entraram ilegalmente no país quando tinham menos de 16 anos
Medida deve beneficiar população latina, vista como fundamental para a eleição presidencial americana deste ano
Em campanha à reeleição, o presidente Barack Obama anunciou que o governo deve suspender as deportações de jovens imigrantes que entraram nos EUA quando tinham menos de 16 anos.
A regra beneficiará estrangeiros com menos de 30 anos que não representam risco para a segurança do país, onde devem ter residido por pelo menos cinco anos.
“Há jovens que estudaram nas nossas escolas, brincaram nas nossas vizinhanças, são amigos dos nossos filhos e juram lealdade à nossa bandeira. São americanos no coração, na cabeça e em todo modo possível, menos no papel”, disse Obama.
Durante o discurso na Casa Branca, o presidente foi interrompido por um repórter que perguntou por que ele preferia estrangeiros a trabalhadores americanos. Respondeu que a mudança era a coisa certa a ser feita.
Para o Pew Research Center, a nova política de deportações pode beneficiar até 1,4 milhão de imigrantes não autorizados, dos quais 70% vieram do México. O número representa 12% dos 11,2 milhões de ilegais que estão nos EUA.
A população hispânica é uma das fatias mais estratégicas do eleitorado americano que irá às urnas em novembro deste ano.
Os latinos representam 16,3% dos habitantes do país e foram os principais responsáveis pelo avanço da população nos EUA entre 2000 e 2010, segundo dados do Censo.
Muitos Estados-chave para a eleição, como Nevada, Arizona e Flórida, têm grandes proporções de latinos. Eles costumam apoiar os democratas, mas vêm sendo cortejados pelos republicanos -o cubano-americano Marco Rubio, senador pela Flórida, é cotado para ser vice na chapa do republicano Mitt Romney.
O presidente, com o aceno, mostra também que quer introduzir novos temas numa campanha até aqui dominada pela economia, seu ponto fraco.
REVISAR E CONCLUIR
O relaxamento do cerco aos que não têm autorização para ficar no país, mas nunca cometeram crimes, havia sido anunciado em maio do ano passado. Mas, segundo o “New York Times”, desde então só 2% dos 411 mil casos foram revistos e concluídos.
Mais imigrantes ilegais foram deportados nos anos Obama do que nos de George Bush (2001-09), seu antecessor.
As deportações crescentes são reflexo do aumento da segurança nas fronteiras após os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001, das sucessivas ampliações do Orçamento destinado ao cerco aos imigrantes e do endurecimento de leis estaduais contra estrangeiros não autorizados.
Ontem, entidades que fazem lobby pela ampliação dos direitos dos imigrantes comemoraram a nova regra.
“É o início do reconhecimento de todas as contribuições que os imigrantes deram a esse país e ao sofrimento que foi imposto a muitos deles simplesmente porque não tinham um pedaço de papel”, disse Natalicia Tracy, do Centro do Imigrante Brasileiro
VERENA FORNETTI
DE NOVA YORK
Fonte: Folha S. Paulo