Premiê alemã, Angela Merkel, diz que crise do euro é argumento para continente continuar na direção do órgão

Desde sábado, o diretor, Dominique Strauss-Kahn, está preso em NY, por abuso sexual; ele deverá deixar o cargo

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
ÁLVARO FAGUNDES
DE NOVA YORK

A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, já mandou o recado: a prisão do francês Dominique Strauss-Kahn não significa o fim do monopólio europeu na direção-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional).
“Sabemos que os países em desenvolvimento têm uma reivindicação de assumir as presidências do FMI e do Banco Mundial, mas no atual momento [de crise na zona do euro], há boas razões para a Europa ter bons candidatos à disposição”, afirmou.
Apesar da movimentação, o comitê executivo do FMI se reuniu ontem e disse que vai “acompanhar o desenvolvimento do caso”. Eles não especularam sobre o futuro de Strauss-Kahn no cargo.
Todos os dez presidentes do FMI, desde sua criação, em 1946, foram europeus.
Isso faz parte de uma espécie de divisão do mundo após a Segunda Guerra. A Europa ficou com o FMI, os EUA, com o Banco Mundial.
“Seria preferível que nós [europeus] continuássemos com esse posto no futuro”, disse Didier Reynders, ministro das Finanças da Bélgica.
Por meio de uma porta-voz, a Comissão Europeia disse que o continente irá ter um candidato para o cargo.
A divisão entre Europa e EUA tem sido contestada por países como China, Brasil e Índia, que afirmam que ela não faz mais sentido.
Foi-se o tempo em que esses países eram apenas receptores de empréstimos do fundo. Hoje, são contribuintes, e é a Europa (Grécia, Irlanda e agora Portugal) que necessita do dinheiro.
Já foram levantados os nomes de Christine Lagarde, ministra das Finanças da França, que, se eleita, seria a primeira mulher no cargo, e de Gordon Brown, ex-primeiro-ministro britânico.

PREOCUPAÇÃO
De fora do continente europeu, aparecem candidatos de Índia, Egito, África do Sul, Israel e México.
Para analistas, a principal preocupação é como ficam as negociações sobre a crise na Europa.
Bessma Momani, professora da Universidade Waterloo (Canadá) especialista em assuntos do Fundo, diz que o francês teve um envolvimento pessoal nas discussões sobre a crise fiscal e que a saída dele pode ser prejudicial para alguns países.
“A instituição vai continuar e, em algum momento, vai entrar um novo diretor-gerente que recuperará a credibilidade da organização.”
Já Morris Goldstein, que trabalhou no Fundo de 1987 a 1994 e hoje é analista do Peterson Institute, diz que, se o francês for considerado culpado, isso afetará a credibilidade do organismo, mas que ainda é cedo para avaliar.

Fonte: Folha de São Paulo