A recente notícia de que a França proibiu copos, pratos e talheres descartáveis pode ser equivocadamente interpretada como um exemplo a ser seguido mundo afora. Motivada pelos bilhões de utensílios descartáveis sendo produzidos, usados uma única vez e depois jogados fora, a medida seria então uma contribuição à redução do lixo produzido no país.
No entanto, é preciso um olhar crítico sobre a mudança adotada. Prevista para entrar plenamente em vigor apenas em 2020, a lei não proíbe o descartável, mas sim o uso exclusivo de plástico convencional na fabricação dos utensílios. Naquele ano só poderão ser fabricados e vendidos se tiverem 50% de material de origem vegetal e se forem biodegradáveis. E cinco anos depois, em 2025 o percentual sobe para 60%. O uso de produtos originalmente produzidos para alimentação em algo descartável já é bem polêmico, mas o fato é que não ajudará em nada a mudar o padrão de produção e consumo de descartáveis.
Some-se a isso o fato de que lei é um dispositivo muito frágil frente a educação ambiental. No futuro novos políticos podem mudar a lei ou amenizá-la. Mas um povo bem educado dificilmente deixa de agir de maneira sustentável.
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Descartáveis biodegradáveis
Dados do Banco Mundial indicam que a geração diária de lixo por pessoa na França é 1,92 kg. E a projeção para 2025 é de chegar 2 kg. Embora seja urgente frear esse crescimento, a lei não acompanha essa pressa ao estender os prazos e colocar em xeque iniciativas de redução voluntária no uso de descartáveis pelos franceses. Afinal de contas por que um francês reduziria o uso de utensílios descartáveis se o mercado oferece uma opção ‘ecológica’?
Além disso, há a tradicional polêmica da lavagem de utensílios que é considerada uma forma de usar a água em excesso. E o descartável, que não precisa ser lavado para se jogar fora, seria mais ecológico. Claro que o impacto ambiental global do descartável é bem maior do que lavar utensílios permanentes e duráveis.
Trabalhar a conscientização ambiental para adoção dos 3 Rs é a melhor forma de envolver toda a população em um modo de vida mais sustentável. Nossas escolhas podem melhorar nossa relação com o planeta e reduzir nosso impacto no meio ambiente, mas é preciso ter bom senso na forma de fazê-lo para que seja um avanço real e se perpetue. Algumas políticas tentam resolver problemas ambientais com pressa e praticidade e não conseguem. Educação para a sustentabilidade é um caminho com resultados válidos, rápidos e duradouros.
Fonte: Recicloteca