Árvore está presente em todo o território nacional. Engenheira florestal acredita em potencial, mas é cética com prazos
A cada dia que passa, fica mais difícil encontrar, no mercado, madeiras de qualidade, que são usadas para móveis e decoração. O aperto da legislação ambiental está transformando em raridade madeiras vindas das florestas nativas.
A tendência será o mercado se abastecer com madeiras plantadas. Nesse contexto, começa a chamar a atenção uma árvore de brejo, que está alimentando o sonho das pessoas. No Museu da Madeira, do Instituto Florestal de São Paulo, seja em afrescos na parede, seja no tabuleiro de placas trabalhadas em relevo, estão amostras da riqueza em madeira que São Paulo tem – ou teve. Dentre as mais valorizadas, estão as madeiras de lei.
“Foi um termo criado pela Coroa Portuguesa para regulamentar todo o corte e exploração das madeiras no Brasil. Atualmente, esse termo ainda permanece, mas para madeiras que, por seu alto valor econômico, são empregadas para fins nobres”, afirma o biólogo Eduardo Longhi.
Uma reserva florestal em Luís Antônio, município a 260 km de São Paulo, no norte do estado, em conjunto com outra unidade de conservação também no estado, totalizam 10 mil hectares onde se preserva o pouco que resta do cerradão paulista, e onde se fazem experiências com plantio de árvores nativas de vocação para madeira.
Seja pelo atual ou por um novo Código Florestal, muitos terão que reflorestar para ficar dentro da legalidade. É uma boa ideia usar a madeira de lei para agregar valor ao reflorestamento, mas como plantar uma árvore desse tipo?
Um dos testes que a reserva de Luís Antônio vem fazendo é comparar o crescimento de quatro espécies nobres: jequitibá, pau-marfim, ipê roxo e louro pardo. As quatro foram plantadas em condições iguais há 26 anos.
O jequitibá vem ganhando na comparação, com uma madeira de melhor qualidade e maior cubicagem. Outra árvore, porém, aparece como opção: o guanandi.
O guanandi
O nome varia conforme a região do Brasil, mas é considerada sempre uma madeira de lei, de cor bonita, valorizada, que agora tem atrás de si um trabalho de observação, um esquema de mudas e sementes e até um agricultor entusiasmado que espera fazer R$ 1 milhão com uma roça de um hectare de guanandi em 18 anos.
O guanandi, cujo nome científico é Calophyllum brasiliense, foi descrito pela primeira vez pelo alemão Von Martius, autor da Flora Brasiliense, no começo do século XIX. Ocorre em todo o território nacional, e é, às vezes, também chamado de guanandi-cedro ou guanandi-carvalho. É madeira resistente e de grande aceitação, mas difícil de encontrar hoje em dia.
Em Monte Alto, a 370 km da capital paulista, ainda no norte do estado, Lorisval Vasconcelos, agrônomo aposentado e perito judicial, acredita ter descoberto no guanandi um negócio.
Vasconcelos tem uma pequena plantação de guanandi no seco, na qual a planta, apesar da origem no brejo, cresce melhor que no terreno encharcado. A desrama é o manejo certo para a árvore subir reta, mas a atividade principal no local é o viveiro de mudas, tocado por Rodrigo e Maicon, filhos de Vasconcelos, os dois também agrônomos.
O guanandi já se tornou uma fonte de renda comum para os viveiristas. Existem viveiros até maiores que o de Monte Alto, com produção regular de mudas e assessoria técnica.
Plantio
Há um jeito para a produção das mudas render mais. Com a preparação de mudas, deve se fazer um trinco na casca externa da planta, para facilitar a germinação. Para plantar, faça uma cova de 40 cm x 40 cm x 40 cm, um tanto de esterco de curral e 200 g de adubo básico (NPK).
Misture com a terra retirada da cova, cobre o buraco e abre uma entradinha para a muda.
Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, a quase 500 km de Belo Horizonte, em um local da cidade chamado Chácara das Freiras, um antigo convento, existe um bosque nativo de guanandi.
A existência de guanandi no Bosque das Freiras é uma prova, segundo o agricultor Dílson Meireles, de que a planta é adaptada e se dará bem na região. Em sua fazenda, em Uberaba, Meireles tem 7.500 pés de guanandi em cinco hectares. Até o quarto ano, o guanandi permite consorciamentos; no caso, com guandu, mandioca e milho.
Seu esquema é este: em um hectare de terra, o plantio é de 1.500 mudas. Em seis anos, há o primeiro raleamento: retiram-se 500 plantas, que são aproveitadas como lenha. Em 10 anos, há o segundo raleamento, e retiram-se mais 500 árvores, mas o aproveitamento agora é como madeira fina.
Permanecem então as 500 melhores árvores do talhão, as quais, em 18 a 20 anos, deverão produzir 400 metros cúbicos de madeira. Meireles sonha alto: espera conseguir R$ 1 milhão de por hectare com guanandi em pouco mais de 18 anos.
Crítica
Em Botucatu, no centro de São Paulo, fica a seção de engenharia florestal da Unesp. Vera Lex trabalha há 20 anos com madeiras de lei, e o guanandi é seu velho conhecido. “Acho que o guanandi tem muito potencial, assim como outras espécies nativas para plantio comercial, inclusive potencial de gerar muita renda, mas sou bastante cuidadosa no que se refere ao prazo, que seria o corte final”, afirma a engenheira.
“Acredito que não se consegue ter uma madeira de qualidade com menos de 30 anos. Também (sou cética) em relação à estimativa de crescimento, porque não há ainda pesquisas suficientes em larga escala de áreas plantações no Brasil para dar um indicativo seguro de quanto essa espécie cresce”, completa Vera.
“Ela pode até estar certa. Porém, a gente tem que pensar que os preços das madeiras estão cada vez mais elevados. Ontem, por exemplo, em Uberaba, fui a algumas madeireiras e consegui madeira de lei para forno a R$ 3.700 o metro cúbico. Já temos notícia que, em São Paulo, as madeiras de lei nativas e nobres estão acima de R$ 4.500 o metro cúbico”, rebate Meireles, que ressalta o papel de “poupança em longo prazo” do investimento para a família.
Fonte: Portal do Agronegócio