Depois que o reino do Ndongo (Angola) da Rainha Ginga, e o Palmares de Ganga Zumba e Zumbi, desestruturaram o tráfico escravista e a produção de açúcar no eixo Angola – Pernambuco da Companhia das Índias Ocidentais, a exploração deslocou-se para o Caribe, concentrando-se no Haiti, ou Aiyti, terras altas na língua aborígine de então na época que lá chegou Colombo.
Depois que a ilha passou para as mãos da França, o Haiti tornou-se a colônia mais lucrativa, reaquecendo o tráfico escravista e a produção e circulação de açúcar.
Na ilha habitavam pouquíssimos franceses. A quase totalidade da população era de africanos e seus descendentes, sofrendo o peso da escravidão e do tráfico escravista, uma colônia de exploração.
Logo começaram as lutas pela liberdade e então ao largo dos latifúndios da monocultura foram se constituindo territórios em que se restabeleciam as tradições africanas que embasavam as comunidades aldeãs com seus valores característicos.
No início do século XIX, os bafejos da Revolução Francesa chegaram a Porto Príncipe, a capital colonial. Escravizados e libertos seguraram essa chama iluminista e reivindicaram e exigiram o fim da escravidão e a independência da nação.
Toussaint “L’Ouverture” liderou o processo até que foi traído nas negociações com Napoleão Bonaparte, sendo morto nas gélidas prisões do Jura nos Alpes.
Napoleão delegou a seu cunhado L’Éclerc o comando das tropas da repressão armada com a missão de restabelecer o status quo da escravidão.
Para surpresa do mundo colonial, as tropas de Napoleão foram derrotadas. Dessa vez pela gente de Dessalines que emerge das comunidades aldeãs assumindo o processo de libertação dando continuidade ao legado do ougan Makandal, de Boukman, Derance e tantos outros.
A Companhia das Índias Ocidentais perdia a colônia mais lucrativa e via o modelo de exploração baseada no tráfico escravista começar a desabar.
Em sua derrocada, Napoleão se auto-criticou: “Tenho de me censurar pela tentativa feita junto à colônia, durante meu consulado. A intenção de fazê-la render-se pela força foi um grande erro. Devia ter ficado contente em governá-la por intermédio de Toussaint.”
A Inglaterra, então rainha dos sete mares, tendo ao lado a colônia da Jamaica, dentre outras, ouviu a lição e pôs “as barbas de molho”; logo mudou de estratégia tentando transformar as colônias de exploração, para exploração e povoamento, incrementando para isso as políticas de fim do tráfico escravista para cessar a vinda de africanos para as Américas; de abolição da escravatura acompanhada de estímulo a imigração de europeus e, ainda, de independência com “ajuda” financeira que causa dependência.
Marco Aurélio Luz