Os documentários ambientais são os filmes-catástrofe da nossa época. Em relação aos primeiros sucessos do gênero, como “Aeroporto” (1970), “O Destino do Poseidon” (1972) e “Terremoto” (1974), existe uma inversão fundamental: agora a natureza é a vítima, e o vilão somos nós. A mudança desperta uma nova gama de sentimentos: além do pânico -agravado pelo fato de nada ser ficcional-, agora o espectador precisa lidar também com a culpa.

Assista ao Filme legendado em espanhol (ainda não foi traduzido para o português)

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“Home – Nosso Planeta, Nossa Casa” é o exemplar mais grandioso dessa nova corrente. Dirigido pelo francês Yann Arthus-Bertrand (roteirista de “A Terra Vista do Céu”, 2004) e produzido por Luc Besson (de “Imensidão Azul”, 1988), o documentário é composto por tomadas aéreas feitas de helicóptero em 54 países, que geraram 500 horas de material em 18 meses de filmagem. Na última sexta-feira, dia mundial do meio ambiente, o filme estreou simultaneamente em 87 países e passou a ser exibido gratuitamente na internet (youtube. com/homeproject).

O documentário se sustenta sobre dois pilares. De um lado, claro, uma overdose de imagens espetaculares, acompanhada pela indefectível trilha sonora de world music, o que remete a filmes como “Koyaanisqatsi” (1982) e “Baraka” (1992). Do outro, uma avalanche de dados assustadores sobre a destruição do ambiente pelo homem, apresentados pela narração em off, uma herança assumida do “cinema de power point” consagrado por Al Gore, em “Uma Verdade Inconveniente” (2006).

Os elementos são díspares -a pirotecnia visual lado a lado com a verborragia da narração-, mas a mistura é eficaz, porque as palavras escolhidas escapam, na maior parte do tempo, tanto dos chavões ecológicos quanto da redundância com as imagens.
Ao final, o documentário “Home” consegue cumprir uma missão ambiciosa: assustar o público e fazê-lo se sentir responsável ao mesmo tempo, intimado a pensar sobre as condições futuras do planeta.

Avaliação: regular

Ricardo Calil
Folha de São Paulo