Principal símbolo visual de Manaus, o teatro Amazonas não é só uma das atrações turísticas mais importantes da cidade mas também uma espécie de aula prática sobre a história da capital amazonense e de suas peculiaridades.

O imponente prédio, de 1896, é o local que melhor preserva a memória da prosperidade financeira do ciclo da borracha, no final do século 19 e início do 20.

Nenhum luxo foi dispensado na construção desse teatro neoclássico. Os candelabros do saguão são de vidro de Murano. O ferro das cadeiras, das colunas centrais e dos balcões curvos são ingleses; já as telhas vitrificadas que recobrem a cúpula vieram da Alsácia.

A construção do teatro levou tempo. O projeto existe desde 1881, mas a pedra fundamental foi colocada em 1884. A inauguração ocorreu apenas em 1896, e foram necessários mais dois anos até que a obra fosse completamente concluída.

O salão da plateia principal, em forma de lira, foi decorado pelo artista pernambucano Crispim do Amaral (1845-1911). É dele a pintura da cortina do palco, que representa o encontro das águas. A rosácea do teto foi projetada para reproduzir a impressão de olhar a torre Eiffel de baixo para cima.

Assim como em todo o resto do prédio, a decoração do salão nobre, de autoria do italiano Domenico de Angelis, valoriza as belezas regionais.

O piso de madeira de lei, um dos poucos materiais brasileiros utilizados no edifício, mescla peças claras e escuras, em outra referência ao encontro das águas –uma das mais curiosas é a presente no calçamento do lado de fora do teatro, padrão que depois foi consagrado no calçadão de Copacabana.

Não perca a visita guiada, incluída no ingresso (R$ 10), que passa pelas salas transformadas em museu. Nelas estão preservados exemplos dos afrescos originais do teatro, louças utilizadas pelos artistas e pelo público e alguns figurinos.

A construção arrastada e cheia de percalços do teatro fez parte da da trajetória peculiar do homem que a impulsionou, o governador Eduardo Ribeiro (aliás, maranhense). Essa relação é detalhada no documentário “Teatro Amazonas”, do cineasta amazonense Aurélio Michiles, que resgatou a história de Silvino Santos, documentarista pioneiro da região, em “O Cineasta da Selva”.

Priscila Pastre-Rossi
da Folha de S.Paulo, na Amazônia