Muitas nações do mundo aprenderam bastante com seus erros do passado, desenvolvendo soluções com o auxílio da ciência e da tecnologia ou apenas criando costumes sustentáveis. Infelizmente muitos países emergentes como é o caso do Brasil, demoram um pouco para observar exemplos e transformá-los em lição.
Ainda na baixa idade média a Peste Negra assolou toda Europa e parte do Oriente, na época a percepção sobre o lixo se resumia sobretudo aos resíduos eliminados pelo organismo, como fezes, urina, pus e restos mortais. Nesse período as populações sofriam com inúmeras doenças e com o terrível mal cheiro, comum pelas ruas das cidades.
Na maioria dos países daquela época, o que era considerado lixo era queimado ou enterrado, porém grande parte ficava exposto atraindo vermes, insetos, ratos e claro muitas bactérias, que até então “não existiam”. Incomodados com todos os problemas gerados pelo lixo, gregos e romanos começaram a exigir que seus resíduos fossem levados para fora dos limites de suas cidades, tornando-se uns dos primeiros povos comprometidos com a limpeza pública.
Após a revolução industrial o lixo orgânico, majoritário em épocas passadas, foi radicalmente superado pelos resíduos sólidos descartáveis, que são inodoros. Quem sabe por isso permaneçam mais nos lugares, pois não fedem, não incomodam a priori. Talvez fosse interessante se tais artefatos plásticos de uso descartável, como embalagens, tivessem algum composto que após um certo período de tempo começassem a exalar um forte odor fétido, talvez assim chamassem mais atenção a posteriori.
Felizmente, muitos pesquisadores, atentos a escalada do lixo, vem alertando governantes e cidadãos sobre as nefastas consequencias que este vem causando a nossa saúde e a saúde do planeta. Hoje estima-se que 7 bilhões de toneladas são lançadas anualmente em nossos oceanos, cerca de 100 mil tartarugas, 100 mil mamíferos e 1 milhão, sim, 1 milhão de aves morrem em consequência do nosso lixo. As causas diretas para tantas mortes nos oceanos são: emaranhamento, sufocamento, afogamento, estrangulamento e inanição, pois muitos animais se sentem satisfeitos ao ingerir plástico confundido com alimento e acabam não absorvendo nutrientes vitais.
No momento, pesquisadores em uma expedição pelo Oceano Atlântico encontraram peixes de valor comercial com pedaços de plástico em meio ao conteúdo estomacal, indicando que o plástico e seus compostos nocivos já entraram em nossa cadeia alimentar, o que significa que nossa saúde está em risco também. Fora das praias e oceanos o lixo descartado na natureza também está afetando a nossa saúde. Aqui na Baixada Santista, onde desenvolvemos ações voluntárias de limpeza em ecossistemas, estamos passando por um forte surto de dengue.
Em nossa última ação realizada dia 20 de Fevereiro na Ilha Porchat, recolhemos em cerca de 3 horas 380 quilos de resíduos plásticos. Por toda encosta da ilha é fácil observar muitas embalagens acumulando água das chuvas, o que propicia a proliferação do mosquito. Inclusive um de nossos apoiadores, que mora na ilha, contraiu dengue logo após a nossa ação. Talvez uma retaliação do mosquito por termos destruido alguns berçários de Aedes aegypti. Convenhamos, se um dos maiores cartões postais da Baixada Santista encontra-se assim, imaginem o resto dos lugares onde as empresas de limpeza pública não atuam. Eu digo, pois já inspecionamos algumas praias sem acesso viário e matas com trilhas da região. O que vimos? Muito lixo.
William Rodriguez Schepis, Biólogo Marinho e Diretor do Instituto EcoFaxina