Ao lado do ministro da Cultura, Juca Ferreira, o maestro John Neschling lançou ontem, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, sua Companhia Brasileira de Ópera. Orçamento de R$ 14 milhões, incluindo 105 récitas de “O Barbeiro de Sevilha”, de Rossini, em 20 cidades brasileiras, entre abril e outubro do ano que vem.

Contando com um grupo de maestros (Abel Rocha, Ira Levin, Victor Hugo Toro e Yoram David), jovem cantores brasileiros e estrangeiros contratados (incluindo o barítono Leonardo Neiva), bem como orquestra e coro estáveis e um grupo fixo de profissionais de cenografia, a iniciativa será financiada via Lei Rouanet.

“Nenhum dos envolvidos será transformado em funcionário público”, explica o ministro. “O ministério se associou à companhia institucionalmente e vai ajudar na captação de recursos, mas o dinheiro vai sair do mecenato.”

A companhia nasce sem sede, com data de estreia para 21 de abril de 2010, em Brasília, e a ambição é levar a ópera a 140 mil espectadores de todas as regiões brasileiras. O projeto prevê que, além dos espetáculos pagos, haja récitas educativas para crianças e jovens, bem como apresentações para grupos sociais que não têm acesso a esse tipo de espetáculo.

“O Brasil tem uma grande tradição de ópera que, aos poucos, foi se perdendo. Hoje, vários teatros estão fechados, e poucas cidades fazem ópera”, afirma Neschling. “Vamos democratizar a ópera e ainda oferecer a cantores e profissionais da área a oportunidade de trabalhar com tranquilidade.”

Com direção cênica de Pier Francesco Maestrini, “O Barbeiro de Sevilha” será uma produção na qual os cantores interagem com a projeção de um filme de animação, que está sendo feito pelo cartunista ítalo-americano Joshua Held.
A ideia é que a companhia tenha uma atuação permanente, e que, depois do “Barbeiro”, outros títulos também itinerantes sejam acrescidos ao repertório. “A companhia é um “work in progress'”, diz o maestro.

Sobre o processo que moveu contra a Osesp, que o demitiu do cargo de diretor artístico em janeiro deste ano, e no qual a Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo foi condenada em primeira instância a lhe pagar R$ 4,3 milhões como indenização, Neschling foi lacônico: “A Osesp é passado”.

Folha de São Paulo