BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

Em novo recado à direção do PV, a ex-presidenciável Marina Silva afirmou ontem que não teria se filiado ao partido sem a promessa de renovação em seu comando.

Ela disse que recusaria o convite se os dirigentes verdes tivessem demonstrado a intenção de barrar mudanças na sigla, presidida por José Luiz Penna desde 1999.

“Se alguém tivesse me dito, eu não teria entrado”, afirmou à Folha. “O que foi dito é que havia problemas, mas que estava em curso um processo de mudança.”

Marina reclamou de “dirigentes que querem manter suas posições no partido” e, segundo ela, recusam-se a cumprir o compromisso de “modernizar” a legenda.

Ela também rebateu críticas de aliados de Penna que, nos bastidores, a acusam de tentar derrubá-lo para assumir o controle da sigla.

“Só estou buscando ser coerente com as razões pelas quais eu me filiei”, disse a ex-senadora. “Não dá para continuar falando em nova forma de fazer política se acharmos que está bom assim.”

Desde a semana passada, verdes próximos a Marina falam abertamente na hipótese de sair do PV e criar um novo partido para abrigá-la se Penna continuar no poder.

Ela nega o plano em declarações públicas, mas fez uma ameaça velada anteontem, ao liderar ato pela “democratização” do PV em São Paulo.

Diante de uma plateia de “marineiros”, a ex-presidenciável lembrou sua saída do Ministério do Meio Ambiente, em 2008, e a desfiliação do PT, no ano seguinte.

“Quando achei que não estava mais coerente com o que pensava e fazia o governo, pedi para sair. Quando senti que não estava mais coerente com o que pensava e fazia o partido [PT], saí do partido.”

Ontem, Marina voltou a negar a ideia de mudar de sigla. “Não estou cogitando essa história de sair do PV ou criar outro partido.”

ESTRATÉGIA

Depois de receber o apoio público de verdes históricos, como Fernando Gabeira e Alfredo Sirkis, a ex-senadora dedicou o dia de ontem a uma série de entrevistas aos principais veículos do país, marcadas por sua iniciativa.

Em minoria na Executiva Nacional do PV, que prorrogou o mandato da direção por mais um ano, ela busca apoio da opinião pública para forçar o rival a recuar.

Integrantes das duas alas voltaram a trocar farpas ontem. Sirkis criticou o presidente da sigla por ter declarado à Folha que ficará no cargo enquanto tiver maioria: “Ele parece lutar pela presidência vitalícia.”

Aliado de Penna, o líder do PV na Câmara, deputado Sarney Filho (MA), divulgou nota em que protesta contra supostas tentativas de “intrigá-lo” com Marina. “Sempre fui seu admirador”, disse.

Fonte: Folha de São PAulo