É tímida a base da proposta que o Brasil deve levar para a conferência do clima de Copenhague, em dezembro, que limita a redução das emissões dos gases-estufa à redução do desmatamento no país, em 80% até 2020. A opinião é da senadora Marina Silva (PV-AC), ex-ministra do Meio Ambiente do governo Luiz Inácio Lula da Silva e pré-candidata à corrida presidencial de 2010.
“Não podemos nos limitar à redução das emissões apenas pela redução do desmatamento”, disse ela ontem à tarde, em Washington, em encontro com jornalistas brasileiros, respondendo a uma pergunta da Folha. “Deve-se ter uma meta global, que seja para o desmatamento, para energia e para agricultura, para todos os setores.”
O Ministério do Meio Ambiente tem proposto uma meta mais ousada, que inclui outros setores, mas esta enfrenta resistências no governo.
Para a senadora, no entanto, há condições objetivas para chegar à meta global, mas esta ainda precisa ser definida. “Hoje, o grande desafio para o Ministério do Meio Ambiente é poder chegarmos a Copenhague com uma meta global, não apenas por desmatamento”, disse Marina, que está em Washington a convite do Brazil Institute do Wilson Center para debater a preparação para a reunião de dezembro.
Hoje, ela se encontra com a congressista democrata Barbara Lee, da Califórnia, e com assessores dos senadores John Kerry, democrata do Massachusetts, e Lindsey Graham, republicano da Carolina do Sul, os dois políticos mais graduados do Congresso dos EUA a defenderem a passagem da ambiciosa proposta de lei ambiental do presidente Barack Obama, que taxa os mais ricos e poluidores para investir numa matriz energética mais limpa.
A senadora concordou que há uma reação comandada pelo chamado “grupo desenvolvimentista” do governo brasileiro, que defende que aparas ambientais podem diminuir o ritmo de crescimento econômico brasileiro num momento em que o país não pode abrir mão dele. “Obviamente, há uma visão mais refratária a essa ideia de uma meta global, mas ela encontra apoio forte na opinião pública nacional”, disse ela.
“O desafio no Brasil será integrar as duas coisas, ambiente e desenvolvimento”, disse. Para isso, defende ela, será preciso mudar a forma de consumir e produzir. “Um compromisso de longo prazo tem de ser assumido por diferentes governos, quem não fizer isso está sendo contrário aos interesses do país e lá na frente vai pagar caríssimo, porque o carbono vai passar a ser precificado”.
Sobre essa prática, que nos EUA tem o nome de “cap-and-trade” e é defendida por Obama, ela diz que não pode ser considerada nem como fonte de renda por parte dos países subdesenvolvidos, nem como escoamento de culpa pelos desenvolvidos. “Tem de ser uma adicionalidade”, disse.
Marina diz não ser contra um monitoramento internacional para ações contra emissão. “Nossas metas são reportáveis e verificáveis. Isso vale para todo o mundo, não vai ter um xerife do mundo olhando para o Brasil.”
Sérgio Dávila
Folha de S.Paulo