O “salvador dos pobres” agora é tido como “agiota”

Por VIKAS BAJAJ MUMBAI, Índia – A SKS Microfinance, maior microfinanceira da Índia, já foi considerada um modelo para as empresas do setor, capaz de prosperar fazendo pequenos empréstimos para pessoas pobres. Hoje, a empresa parece simbolizar os problemas das microfinanças. Depois que a SKS concluiu sua oferta pública inicial, em agosto passado, suas ações haviam disparado 50%. Em 10 de maio, as ações da SKS fecharam a 298,60 rupias (US$ 6,67), uma queda de cerca de 70% em relação ao preço de entrada no mercado. O prejuízo da empresa, no primeiro trimestre desde a abertura do capital, foi consequência de muitos mutuários terem suspendido os pagamentos dos seus empréstimos no estado original. As autoridades indianas não hesitaram em chamar os microcredores de agiotas gananciosos. Nos primeiros três meses deste ano, somente 10% dos mutuários da SKS fizeram seus pagamentos. Os problemas financeiros da SKS são os últimos em uma série de más notícias. No início deste mês em Bangladesh, a Suprema Corte decidiu contra Muhammad Yunus, o Prêmio Nobel que ficou conhecido como o pai do microcrédito. O governo local afirma que o sistema vitimiza os pobres. O tribunal rejeitou a apelação de Yunus para continuar como diretor-gerente da instituição que fundou, o Grameen Bank. No Estado indiano de Andhra Pradesh, o pagamento de empréstimos começou a cair acentuadamente no final do ano passado, depois que os legisladores locais aprovaram uma dura lei restringindo os empréstimos por firmas de microcrédito. Muitos políticos também incentivaram os mutuários a não pagar os empréstimos. Vikram Akula, o americano que é presidente da SKS, disse que os pagamentos de empréstimos poderão aumentar significativamente se o Estado restringir novos empréstimos, o que daria aos mutuários confiança na empresa. “Se conseguirmos recomeçar a emprestar, achamos que poderá haver uma melhora drástica”, ele disse. Outras grandes microfinanceiras indianas, como Basix, Share e Spandana, também enfrentam grandes prejuízos em Andhra Pradesh. Akula admitiu que a companhia demorou para reagir às críticas de políticos e líderes comunitários. “Ainda acho que é uma empresa sólida”, disse Akula em Hyderabad, onde fica a sede da SKS. “Falhamos no trabalho com o meio político.” As autoridades de Andhra Pradesh não retornaram os telefonemas da reportagem. As microfinanceiras esperam fazer acordos de repagamento com os mutuários e convencer o governo estadual a relaxar a dura lei de crédito. Essas restrições exigem que as empresas obtenham a aprovação do governo antes de fazer um empréstimo e pedem que as cobranças ocorram diante de autoridades públicas. Akula disse que o Estado aprovou apenas 1.643 dos 73 mil novos pedidos de crédito. Os políticos disseram que querem conter cobrança agressiva de empréstimos que levou endividados ao suicídio. Alguns deles conseguiram diversos empréstimos, acumulando dívidas de US$ 2 mil. No início deste mês, o Reserve Bank, o Banco Central da Índia, emitiu suas próprias regras para microfinanceiras, que incluem restringir as taxas de juros anuais a 26% e limitar o crédito total a US$ 1.118 por mutuário. A SKS diz que a maior parte de seus empréstimos já obedece a esse limite; outros credores cobraram taxas de 30% ou mais. Samit Ghosh, diretor-gerente da Ujjivan Financial Services, uma microfinanceira de Bangalore, disse que poderá levar dois anos para que a indústria supere a crise em Andhra Pradesh. “As microfinanças terão de se reinventar”, ele disse.

Fonte: Folha de S. Paulo