A COP22 foi aberta dia 7 de novembro, em Marrakesh com um apelo de seu presidente, Salaheddine Mezouar, por urgência e ambição para concluir a regulamentação do acordo do clima de Paris. No ano que se encaminha para ser o mais quente já registrado na história, as Nações Unidas acabam de alertar que a janela de tempo para conseguir estabilizar o aquecimento global em 1,5 oC pode se fechar já em 2020. É preciso agir imediatamente com muito mais ambição do que a que está na mesa até agora.
A conferência de Marrakesh precisa preparar o caminho para que o ano de 2018, quando os signatários do acordo se juntariam pela primeira vez para uma conversa informal sobre o aumento do nível de ambição, seja de fato um espaço para o aumento do compromisso de todos os países, em especial os grandes emissores. Esperar o prazo formal de 2020 para deixar Paris em pleno funcionamento e o de 2023 para começar a rever a ambição das NDCs pode condenar ecossistemas, populações e países inteiros à extinção. No limite, poria em risco a própria meta de menos de 2 oC de Paris.
O Brasil chega a Marrakesh com seus negociadores imbuídos desse espírito de urgência. A diplomacia brasileira já declarou que o momento é “de acelerar a implementação”, o que inclui uma posição do país favorável a encurtar prazos. É crucial que o Brasil, décimo maior poluidor do planeta, continue contribuindo para o avanço do processo no front da negociação.
No entanto, a maior prova de comprometimento é o que o Brasil fará para cá de Marrakesh: como implementará o acordo dentro de casa e aumentará a própria ambição. E aqui os sinais vêm sendo contraditórios.
O desmatamento na Amazônia aumentou 24% em 2015, o que elevou nossas emissões em 3,5% mesmo no ano de uma das piores recessões da história. Em 2016 ele deve aumentar de novo, podendo chegar a 7.000 km2 destruídos em 12 meses. O mesmo Congresso que ratificou o Acordo de Paris em tempo recorde aprovou a ressurreição do carvão mineral, um combustível que o resto do mundo tenta sepultar. Apesar das renováveis, como solar e principalmente eólica, estarem surfando na crise, a principal pauta energética do Governo e do Congresso é, ainda, o pré-sal. O licenciamento ambiental e os direitos dos povos indígenas – em cujas terras repousa 30% do estoque de carbono da Amazônia – encontram-se sob assédio permanente dos aliados do governo. E o Código Florestal, aprovado há quatro anos, segue patinando por pressão dos ruralistas por mais anistia.
O Brasil precisa resolver esse conflito de personalidade: agora, mais do que nunca, não dá para parecer progressista nos fóruns internacionais e ser conservador dentro de casa. A COP22 é a oportunidade de afinar discurso e prática. Dada sua extrema vulnerabilidade climática, e as vantagens evidentes para sua economia em reduzir emissões, o país precisa, com urgência, tratar clima como agenda prioritária de desenvolvimento. Mas não precisa esperar a volta de Marrakesh para fazer isso.