Viver em uma casa ecologicamente correta a menos de dez minutos do centro da cidade e ainda ter como vizinhos tatus, lagartos, saruês e uma infinidade de pássaros, como tucanos, sabiás e sanhaços. O sonho de Antônio Martins Ribeiro deve se concretizar até o final do ano, quando ele pretende se mudar, com a família, para a residência que está construindo com materiais alternativos, que causam reduzido impacto ao ecossistema. A princípio, Ribeiro havia planejado a conclusão da moradia para o Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, mas o longo período de chuvas no primeiro semestre adiou a previsão.
A casa de três quartos, três banheiros, duas salas, cozinha e área de serviço distribuídos em 150 metros quadrados está sendo erguida com tijolos ecológicos, que não necessitam de revestimento. O imóvel contará com o reaproveitamento da água da chuva e também dos lavatórios e chuveiros. Terá telhado com estrutura metálica e sistema de aquecimento de água a partir da energia solar, além de amplas janelas para aproveitamento da luminosidade natural.
Projetada pelo arquiteto Carlos Roque, na forma de um “L”, para preservar árvores nativas da Mata Atlântica, a casa ocupará parte de um terreno de cerca de 400 metros quadrados no bairro Vale Verde, em Cubatão. “Escolhi esse local pela proximidade com a riqueza natural. Já recebo a visita de tatus e lagartos no canteiro de obras”, comentou Ribeiro. O Vale Verde, como o próprio nome indica, fica encravado na Serra do Mar, com acesso pela Rodovia Padre Manuel da Nóbrega.
Lego – Ribeiro detalha que o tijolo ecológico é composto de oito partes de terra e uma de cimento, além de água. Cada bloco de 30x15x7,5 centímetros contém dois furos de cerca de 10 centímetros de diâmetro, por onde passam a fiação elétrica e a tubulação da instalação hidráulica.
“Não é preciso quebrar a parede para instalar conduítes ou canos de água, reduzindo o desperdício. Além disso, os blocos são fixados com cola ou cimento, seguindo um sistema de encaixe, como partes de um jogo Lego. Também não há necessidade de revestimento. Basta passar um selador”, informa Ribeiro, frisando que além de representar uma redução de custo de 30% em relação ao produto convencional, o tijolo ecológico ajuda a preservar o meio ambiente. “Não sofre queima. Atualmente, para cada mil blocos de barro, estima-se o corte de cinco a seis árvores”.
Os furos também recebem ferragens e concreto para a formação das colunas de sustentação da casa. “Não há quebra-quebra. E a casa sobe sem o emprego de madeiramento. Mais um aspecto ecológico”.
Chuveiro – Apesar de contar com três banheiros, a casa terá um sistema inteligente de reaproveitamento de água. Além de coletar a água da chuva, utilizará o líquido dos lavatórios e do chuveiro para a descarga do vaso sanitário. “A água utilizada nos chuveiros e pias seguirá para um reservatório no quintal, após filtragem, e depois será bombeada para outra caixa na parte superior da casa. Uma bomba movida a energia solar fará o trabalho”, destacou Ribeiro.
Também haverá redução no consumo de energia elétrica. A casa terá sistema de energia solar para aquecimento de água e contará com amplas janelas, o que descartará o acendimento de lâmpadas durante o dia. “O equipamento de energia solar, para utilização por quatro pessoas, exigiu o investimento de cerca de R$ 4 mil. Ainda não está tão acessível, mas acredito que em menos de três anos terá compensado o investimento”, disse Ribeiro.
O telhado não empregará madeira. Ribeiro optou por estrutura metálica galvanizada, que apresenta maior durabilidade, não sofre ataque de pragas, não está suscetível ao fogo e colabora com o meio ambiente. “A cobertura receberá telhas de cimento, que apresentam menor absorção de água e apresentam o dobro da resistência quando comparadas às de barro. Além disso, não passam pelo processo de queima, que tanto prejudica o meio ambiente”. Ribeiro estima que fará uma economia de até 50% com o telhado ecologicamente correto em comparação com o sistema tradicional. “Com esse sistema de construção, tudo é muito mais rápido”.
A iniciativa de Ribeiro já despertou a atenção de vizinhos, interessados em conhecer, principalmente, o tijolo ecológico e suas vantagens. “Também é possível comprar uma máquina por R$ 12 mil na Capital e produzir os próprios tijolos”.
Melchior de Castro Junior