A história do vinho chileno, o mais consumido por brasileiros, começa em 1551, na primeira colheita de uvas feita por Francisco de Aguirre, na cidade de Copiapó. Os vinhedos eram de uma tinta simples, denominada país, a mesma varietal plantada por religiosos na Califórnia, chamada de mission.
Mesmo agitado, Chile não perde a linha
Inverno Chileno é também o codinome da onda de protestos contra o governo
Santiago merece visita de pelo menos três dias
Grafitada, Bellavista é um museu a céu aberto
Veja galeria de imagens do Chile
Confira lista de vinhos chilenos que vale a pena comprar
À época, os vinhos foram usados em ofícios religiosos, mas logo seu consumo se tornou hábito, e o sucesso do vinho chileno, nos 270 anos da dominação espanhola, criou uma involuntária competição com vinhos da Espanha. E logo surgiram decretos proibindo novas plantações de uvas e aumentando impostos para coibir a concorrência.
A Coroa espanhola agiu ainda de forma drástica, proibindo exportações e arrancando videiras. Essas medidas ajudaram a fomentar a revolta contra os colonizadores, o que, combinado com os eventos políticos na Espanha e com as guerras napoleônicas, culminou, em 1810, com a luta pela independência.
A luta duraria até 1818, com a vitória das forças de Bernardo O’Higgins e de José de San Martín, este último um general argentino que atuou na libertação do Chile.
INFLUÊNCIA FRANCESA
A influência da França nos rumos do vinho chileno veio a seguir. As mudanças na vitivinicultura que se seguiram à independência são creditadas a ricos donos de minas.
Indo à França, se tornaram apreciadores dos vinhos franceses, em especial dos produzidos em Bordeaux, e levaram uvas bordalesas para o Chile, especialmente das varietais cabernet sauvignon, carmenère, malbec, merlot, sauvignon blanc e sémillon.
O pioneiro foi Silvestre Ochagavía, em 1851; ele foi seguido por outros fundadores de vinícolas ainda em atividade: Viña Concha y Toro, Viña Errazuriz, Víña Carmen, Viña Cousino-Macul, Viña San Pedro, Viña Santa Carolina e Viña Santa Rita etc.
Com as uvas, vieram técnicas francesas e houve ganho de qualidade. Outro fator que diferenciou os vinhedos chilenos foi a ausência da filoxera, praga que dizimou videiras ao redor do mundo, exceto no Chile, no final do século 19, por razões não totalmente compreendidas. Hoje, seu território é um santuário de videiras originais, centenárias, plantadas em pé-franco, sem a necessidade do uso de enxertia.
O período de prosperidade propiciado pelas exportações para a Europa, que à época não tinha como produzir vinhos, revitalizou vinhedos.
A retomada da produção em países tradicionais, como a França e a Itália, se seguiu à cobrança de pesadas taxas para a importação de vinhos, adotada em 1902. Com isso, o Chile perdeu o mercado internacional e viveu período de estagnação.
Em 1970, o governo Salvador Allende iniciou um processo de reforma agrária, com expropriação de terras e divisão das grandes propriedades, golpeando a indústria do vinho. Para completar, exportações caíram a nível mínimo no período Pinochet.
Os tempos difíceis foram superados e, entre a metade dos anos 1980 e os anos 1990, o Chile respirou novos ares, com investimentos em vinícolas e vinhedos, buscando locais de plantio. Estudos do “terroir” conduzidos por nomes como Pedro Parra e Marcelo Retamal resultam em novíssimas regiões de plantio e fazem surgir vinhos elegantes e inovadores.
Também está nascendo no Chile o enoturismo, atividade próspera que atrai apreciadores: boa parte deles são brasileiros.
ARTHUR AZEVEDO, médico e enólogo, foi presidente da Associação Brasileira de Sommeliers (SP) e edita a revista “Wine Style” (www.winestyle.com.br) e o site Artwine (www.artwine.com.br)
Fonte: Folha