Diretores de fotografia e montadores brasileiros consolidam suas carreiras no disputado mercado americano e longe da atenção do grande público

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Linha ascendente: depois de compor a trilha sonora de três filmes brasileiros com repercussão no exterior, Antonio Pinto foi trabalhar com Michael Mann (Werther Santana/AE)

Anúncios de brasileiros escalados para produções estrangeiras sempre causam frisson. A reação é natural para um país ainda muito voltado para o exterior, e que também, é preciso reconhecer, sente desperdiçar os talentos genuínos que tem. Não à toa, se lamenta o pequeno avanço conquistado por Rodrigo Santoro em anos de investida sobre Hollwyood, onde Alice Braga, para deleite de parte do público nacional, faz boa carreira.

O mesmo se aplica a diretores nacionais de trajetória consolidada como Fernando Meirelles e Walter Salles, com mais de uma produção internacional no currículo, e o estreante no circuito José Padilha, anunciado como novo nome para Robocop. Mas há um grupo numeroso de profissionais de cinema, ligados a funções de menor visibilidade, que vem voando para além dos limites do país, e reafirmando lá fora o êxito do cinema nacional.

Nos créditos de filmes recentes como A Árvore da Vida, de Terrence Malick, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2011, Inverno da Alma, indicado ao Oscar de Melhor Filme deste ano, e A Rainha, concorrente ao Oscar de Melhor Filme em 2006, há brasileiros disputados no mercado internacional como Daniel Rezende, Affonso Beato e Affonso Gonçalves.

Para Antonio Pinto, compositor das trilhas sonoras de Central do Brasil, Cidade de DeusAbril Despedaçado, a receita para entrar na indústria americana, além de talento, passa sobretudo por perseverança. “Compor a trilha de três filmes que em quatro anos conseguiram repercussão internacional atraiu a atenção dos estúdios e agentes”, conta ele que, depois de ser contratado por uma agência do ramo sediada em Los Angeles, foi convidado para fazer a trilha deCollateral, do diretor americano Michael Mann. O longa é estrelado por Tom Cruise e Jamie Foxx.

Jason Merritt/GettyImages

Diretor de fotografia Adriano GoldmanDiretor de fotografia Adriano Goldman

Caminho das pedras – O flanco do mercado estrangeiro se abriu para os brasileiros depois das indicações de Central do Brasil ao Oscar, em 1998. O longa de Walter Salles concorreu às estatuetas de melhor filme estrangeiro e atriz, com Fernanda Montenegro. Quatro anos depois, a abertura se intensificou com o lançamento internacional de Cidade de Deus, de Fernando Meirelles. Cada profissional que se destaca leva outro com ele. “Funciona como uma rede de indicações. Estúdios pedem sugestões a diretores, que indicam profissionais com quem já trabalharam no Brasil”, diz o diretor de fotografia Adriano Goldman.

Goldman, que acabou de trabalhar em 360, o próximo filme de Fernando Meirelles, inteiramente financiado por produtores estrangeiros, estreou lá fora em 2009, dirigindo a fotografia do mexicano Sin Nombre, de baixo orçamento. Em seguida, uma porta se abriu para trabalhar no elogiado Uma Vida pela Liberdade, do diretor Tony Goldwyn, que rodou episódios das sériesDexter, Law & OrderGrey’s Anatomy.

Entre os critérios para escolha de um trabalho em Hollywood, o dinheiro nem sempre é ponta-de-lança. Disponibilidade e faro para filmes com bons roteiros e diretores com potencial contam mais do que a exigência de altos cachês. Foi com a estratégia de colar suas carreiras às dos promissores diretores Alfonso Cuarón e Alejandro Iñarritu, quando nenhum dos quatro era famoso, que os diretores mexicanos de fotografia Rodrigo Prieto e Emmanuel Lubezki se tornaram respeitados. Mesmo ganhando pouco por isso. Hoje, eles chegam a cobrar cachês de 25.000 dólares por semana de trabalho. Valor cinco vezes maior do que costuma ganhar um brasileiro em começo de carreira internacional. De todo modo, para efeito de comparação, o piso do mercado americano é o topo do que oferece o nosso.

Depois do filme – O fluxo de brasileiros trabalhando para estúdios estrangeiros ainda não configura uma onda. Falta qualificação. Ao passo em que diretores de fotografia, montadores e músicos consolidam suas carreiras no mercado de cinema americano, não há maquiadores e diretores de arte que tenham rompido a barreira.

Ainda assim, o panorama é promissor. Nomes como Ricardo Della Rosa, Adriano Goldman, Cesar Charlone e Affonso Beato – o preferido do espanhol Pedro Almodóvar -, diretores de fotografia; Daniel Rezende e Affonso Gonçalves, montadores, e Antonio Pinto, músico, se incluíram no mercado americano. E se trata de um mercado dominado por seis agências com sede em Los Angeles, cada uma com uma carta de 300 profissionais, 80% deles nativos do país. Acirrado diz pouco sobre o cenário de disputas por vagas nos filmes hollywoodianos.

A despeito de profissionais com carreira consolidada como Fernando Meirelles e Walter Salles, e dos ascendentes José Padilha, Wagner Moura e Alice Braga, não raro filmes americanos e europeus trazem nos créditos nomes de fácil assimilação pelo público daqui. São nomes brasileiros.

 

Fonte: VEJA