Fechar um tratado climático da ONU em 2010 será “muito difícil”, apesar de um novo esforço para incentivar as negociações após a cúpula de Copenhague, disse na terça-feira o chefe do Secretariado das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas.
Yvo de Boers, que é holandês e na semana passada anunciou seu plano de renunciar ao cargo em julho, depois de quatro anos, também sugeriu à Reuters Television que seu sucessor deveria vir de um país em desenvolvimento.
“Acho que será muito difícil”, ele falou, referindo-se às perspectivas de ser acordado um novo tratado em uma reunião ministerial anual que acontecerá em Cancún, no México, entre 29 de novembro e 10 de dezembro. Os países ricos e pobres divergem sobre como dividir o ônus das reduções das emissões de gases.
Uma cúpula da ONU realizada em dezembro na Dinamarca deixou muitos países decepcionados, pelo fato de não ter sido concluída com um novo pacto legalmente compulsório para suceder ao atual Protocolo de Kyoto. A cúpula foi encerrada com o Acordo de Copenhague, não compulsório, para limitar o aquecimento do planeta a menos de 2 graus Celsius acima da época pré-industrial.
De Boer disse que os países em desenvolvimento vão querer saber o que o tratado significará “em termos de obrigações e o que lhes proporcionará em termos de finanças e tecnologia, antes de se disporem a dar aquele passo e dizer ‘sim, estamos dispostos a trabalhar por um tratado legalmente compulsório'”. “Por isso acho que o primeiro passo deve ser acertar a arquitetura do tratado, e acho que isso poderá ser feito no México. O passo seguinte seria acordar um tratado.”
Na segunda-feira, países chaves concordaram em acrescentar uma sessão adicional de negociações entre representantes seniores de 194 países, em Bonn, entre 9 e 11 de abril, além da reunião já prevista para Bonn entre 31 de maio e 11 de junho. Os delegados disseram que isso é sinal de disposição de trabalhar para chegar a um tratado.
México
De Boer também afirmou que espera que o México seja anfitrião de conversações entre alguns negociadores importantes em março.
Ele disse que a escolha de seu sucessor cabe ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Mas falou: “acho que seria bastante útil que fosse alguém de um país em desenvolvimento”.
Até agora 100 países firmaram o Acordo de Copenhague, que promete quase 10 bilhões de dólares em ajuda por ano entre 2010 e 2012, chegando a 100 bilhões de dólares por ano a partir de 2020, além de fixar o teto de 2 graus Celsius de aquecimento máximo.
De Boer disse que o debate climático está chegando a um período em que será possível implementar decisões já tomadas para frear secas, enchentes, ondas de calor, tempestades mais violentas e a elevação dos níveis oceânicos.
“Estamos ingressando em uma fase que diz respeito à implementação, em conseguir a adesão de países em desenvolvimento e em reconhecer a cooperação e adaptação”, disse ele. Na Indonésia, na terça-feira, um estudo da ONU disse que as reduções de emissões feitas até agora por 60 países no Acordo de Copenhague e que se referem principalmente à queima de combustíveis fósseis são insuficientes para limitar a alta da temperatura em no máximo 2 graus.
Achim Steiner, chefe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, exortou os países a anunciar cortes maiores em suas emissões: “A mensagem não é ficar inativos, resignados e dizer que jamais vamos conseguir”. Yvo de Boer vai trabalhar para a consultoria empresarial KPMG.
“Eu sempre falei que, na minha opinião, em última análise a solução para as mudanças climáticas precisa vir do setor privado, dentro de limites traçados por governos, mas do setor privado”, disse ele.
Reuters