Por ano, 250 milhões de toneladas de plástico produzidas e cerca de 35% desse montante são usados apenas uma vez, por apenas 20 minutos. Após o uso, em torno 10% do material descartado tem como destino o mar, revelou um estudo da Race for Water, fundação suíça dedicada à preservação da água.
Marco Simeoni, chefe da expedição Race For Water Odyssey, passou oito meses fazendo um levantamento global de lixo nos oceanos. Segundo ele, 80% do plástico encontrado no mar têm origem em atividades em terra .
“O problema dos plásticos nos oceanos é que o material se quebra em micro partículas que são ingeridas por peixes e pássaros”, explica Simeoni. “Os animais confundem isso com comida. No Havaí, por exemplo, 87% dos pássaros mapeados no local tinham plástico no estômago. O pior de tudo é que tudo é essas partículas são tão pequenas que é inviável fazer uma limpeza disso no mar.”
O lixo plástico se concentra em cinco regiões específicas nos oceanos: Atlântico Norte, Atlântico Sul, Pacífico Norte, Pacífico Sul e Índico. Porém, a expedição localizou o lixo plástico em regiões remotas, fora das áreas de sujeira dos oceanos.
Segundo as previsões da equipe de cientistas da Race for Water, se nada for feito na próxima década, haverá um quilo de plástico para cada três quilos de peixes nos oceanos.
Entre redes de pesca e cordas, o plástico representou 84% do material colhido nos Açores, 70% em Bermuda e 91% na Ilha de Páscoa. Outros materiais, como espuma, cápsulas, filmes e filtros de cigarro, também foram encontrados nesses locais. As análises estão sendo realizadas pelo Laboratório de Meio Ambiente da Escola Politécnica Federal de Lausanne (CEL/EPFL).
O objetivo da Race for Water Odyssey foi elaborar uma avaliação mundial das áreas com poluição por plástico. A expedição passa por 12 praias e ilhas que ficam dentro dos cinco vórtices de lixo principais. As ilhas, que agem como uma espécie de barreira natural contra o movimento do vórtice, acumulam o lixo em seus litorais. Assim, suas praias se tornam uma amostra conveniente e representativa dos tipos e da quantidade de lixo encontrado em águas próximas.
Quando o lixo plástico é jogado no mar, ele flutua e viaja com as correntes marítimas. Esse material, que se decompõe lentamente na água, pode passar anos viajando em alto mar até se aglomerar nesses vórtices de lixo. Esses enormes redemoinhos são produzidos pela circulação oceânica, cujo movimento lento e rotatório cria áreas relativamente calmas, onde os detritos se acumulam.
Estima-se que a soma das áreas desses lixões de plástico nos oceanos – ou sopas de lixo – seja de mais de 15 milhões de quilômetros quadrados. O mais próximo do Brasil, no Atlântico Sul, fica a uma distância de 3,3 mil quilômetros do Sul do país. Acredita-se que o lixo ocupe uma área de 1,3 milhão de quilômetros quadrados. O maior sopão de lixo marinho é o do Pacífico Norte, com mais de 3 milhões de quilômetros quadrados.
Estima-se que 20% dos lixos flutuantes são resultado da atividade humana no mar (tráfego marítimo, pesca, aquicultura, plataformas de petróleo) e 80%, em terra (atividades domésticas, agrícolas e industriais). São inúmeros os impactos negativos desse tipo de poluição nos ecossistemas marinhos e na população humana: ingestão de plástico, enroscamento de animais, colonização de espécies invasoras trazidas pelo lixo, aumento de vetores de substâncias tóxicas contaminantes da cadeia alimentar (que em algum momento são consumidas por seres humanos).
As cinco áreas de lixo pelas quais a expedição Race for Water passou totaliza 15,9 milhões de quilômetros quadrados, equivalente a quase duas vezes o território do Brasil. A mancha mais próxima ao território brasileiro, no Atlântico Sul, tem 1,3 milhão de quilômetros quadrados, área equivalente a quase 30 vezes o Estado do Rio de Janeiro.
Fonte: Instituto Akatu