O desenvolvimento de pesquisas e a conquista de fontes renováveis são as prioridades do século XXI, alertou hoje o economista e ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto, em São Paulo. Ele realizou palestra sobre ”Aquecimento Global e Política Econômica” no Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED 2010). O evento, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), tem por objetivo discutir as relações entre mudanças climáticas e atividade agropecuária. Delfim Netto afirmou que o Brasil tem como vantagens no cenário atual um agronegócio com alta produtividade, com capacidade de atender a demanda por alimentos e biocombustíveis, sem gerar conflitos. Outra vantagem brasileira é o petróleo do pré-sal, destacou ele, ressaltando que essas reservas devem ser utilizadas para fins nobres, como a petroquímica, com a manutenção das pesquisas em biocombustíveis.

O ex-ministro disse que a evolução no acesso às fontes de energia foi fator indispensável para promover o desenvolvimento humano ao longo dos séculos, e que esse mérito não pode ser desconsiderado, mesmo que o uso de combustíveis fósseis tenha ampliado a geração de Gases de Efeito Estufa (GEEs). “É óbvio que esse movimento produziu o crescimento econômico e deterioração do meio ambiente. Mas o petróleo é do século XX e já está sendo substituído como matriz para os transportes”, destacou Delfim Netto. Segundo ele, a pauta energética já está centrada na pesquisa e desenvolvimento de fontes de energia limpa. “O homem não quer voltar à Idade da Pedra. Qualquer solução em relação à energia terá de contemplar um nível de crescimento adequado”, alertou o economista.

Delfim Netto destacou que na busca de autonomia energética, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, já deu claros sinais de que vai investir em fontes limpas e alternativas, priorizando biocombustíveis. “A revolução energética já está acontecendo nos laboratórios. Energia é o programa para o século XXI”, disse. O Brasil larga com vantagens nesse desafio, pois já utiliza matrizes renováveis para a geração de 45% da energia que consome. “Além disso, no Brasil não existe nenhum conflito no uso de áreas para a produção de alimentos e para fontes de energia renováveis”, afirmou.

Se o ex-ministro alertou sobre a tendência de fortalecimento no uso de fontes renováveis de energia, o pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa Informática Agropecuária destacou a importância da pesquisa em biotecnologia para que o mundo possa enfrentar com menos dificuldades as mudanças climáticas. Assad alertou que as pesquisas já desenvolvidas indicam alta probabilidade de que ocorra aumento da temperatura, mas que ainda não há certezas quanto às possibilidades de aumento ou redução de chuvas. Indispensável é investir em pesquisa, desenvolvendo tecnologias antes que a produção agropecuária seja atingida por alterações no clima.

O desenvolvimento de variedades agrícolas melhoradas, mais adaptadas a novas condições de temperatura e oferta de água, demora cerca de dez anos, alertou Assad. Ou seja, os investimentos em pesquisa precisam começar logo. “Eu não acredito em mudanças climáticas, eu trabalho com dados. Estamos questionando se há ou não o aquecimento, mas preparando soluções que permitam trabalhar nesse cenário de adaptação”, afirmou. Um cenário de alta de temperatura deslocaria, por exemplo, as lavouras de café ao sul, permitindo o plantio até mesmo em terras gaúchas e catarinenses. Uma alternativa, disse o pesquisador, seria desenvolver uma variedade de café arábica com maior resistência ao calor, característica do café robusta.

O pesquisador Evaristo Eduardo de Miranda, da Embrapa Monitoramento por Satélite, realizou palestra sobre “Agropecuária e Meio Ambiente – Convergência e Conflitos”. Falou sobre temas como a busca da sustentabilidade rural e urbana, a necessidade de oferta de alimentos seguros e baratos e a relação entre produção agrícola e preservação das reservas de água. Destacou, por exemplo, que a agricultura estruturada é importante para os mananciais, favorecendo a recarga dos reservatórios subterrâneos de água. Miranda ressaltou novos desafios, como a utilização da palha na geração de energia, o que não ocorre hoje.

Assessoria de Comunicação Social da CNA