Julius Lokinyi era um dos caçadores mais notórios do Quênia. Ele foi acusado de, sozinho, ter matado cerca de 100 elefantes e de vender as presas pela estrada, na calada da noite, fazendo a sua parte para colocar grandes quantidades de marfim no sombrio comércio clandestino global.

Mas depois de ter sido perseguido, humilhado, intimidado e, finalmente, persuadido por seus anciãos, ele passou recentemente por uma transformação notável. Ele passou a acreditar que elefantes “valem mais” vivos do que mortos, por causa dos turistas que atraem. Assim, o Sr. Lokinyi parou a caça “furtiva” e juntou um pelotão de vigias – essencialmente uma milícia de conservação – para proteger a vida selvagem que ele outrora ajudou a abater. As informações são do New York Times.

Atualmente ele se levanta de madrugada, calça as suas botas de combate e marcha com outros moradores, alguns dentre os quais são voluntários estreantes que nunca haviam pego em uma arma antes, para combater os caçadores.

“Temos de proteger os elefantes”, disse Lokinyi, cujos olhos agora brilham com o zelo de um convertido.

Da Tanzânia até Camarões, dezenas de milhares de elefantes estão sendo caçados a cada ano, mais do que em qualquer momento em décadas, por causa da crescente demanda da Ásia por marfim. Nada parece ser suficiente para conter esse massacre, e as carcaças remanescem empilhadas, crivadas de balas. Os cientistas dizem que, a este ritmo, os elefantes africanos podem em breve seguir o caminho do bisão selvagem da América – o da extinção.

Julius Lokinyi e seu grupo são um dos inúmeros exemplos de um novo movimento que está acontecendo no Quênia. Na região norte do país, moradores carentes têm adotado essa solução pouco convencional que, se replicada em outros lugares, pode ser a chave para salvar milhares de elefantes na África, segundo os conservacionistas. Em um número crescente de comunidades locais, as pessoas estão ansiosas para proteger a sua vida selvagem, e civis sem qualquer experiência militar estão se unindo, agarrando espingardas e rifles, e arriscando as suas vidas para enfrentar quadrilhas de caça fortemente armadas.

Tais milícias têm atuado de maneira rápida e com a eficiência de um serviço de emergência: eles são informados de ações de caça e se deslocam até o local, muitas vezes com mais agilidade que os funcionários do Governo. Segundo os mesmos, os recursos públicos são limitados e o Governo não pode estar em todos os locais.

No entanto, esse exército civil improvisado não faz isso, em sua maioria, por altruísmo, por amor aos paquidermes ou para defender o seu direito à vida. A maioria esmagadora o faz porque, no Quênia, a vida selvagem atrai turistas, o que é a base da manutenção da economia na região.

Nota da Redação: Toda ação de proteção deve ser fundamentada na prática da não violência. Que o uso dessas armas não sirva para fomentar ainda mais condutas violentas. Ou seja: que o direito à vida dos animais seja preservado e defendido sem o uso da violência contra humanos.