Marcado pelas falas acanhadas que lhe couberam em filmes estrangeiros como “As Panteras Detonando” (2003) e “300” (2006), Rodrigo Santoro, 35, encara um novo desafio.
Na animação “Rio”, de Carlos Saldanha, prevista para abril, pela primeira vez ele participa de uma produção americana só com a voz.
Santoro dubla o personagem Túlio na versão original e também em português. À Folha, ele comenta o obstáculo da língua para atores estrangeiros em Hollywood.
Folha – Você teve alguma preocupação com o sotaque para interpretar Túlio?
Rodrigo Santoro – Ele é um ornitólogo brasileiro, então não precisei trabalhar nenhum sotaque, usei o meu, de brasileiro e carioca.
Em outros filmes, há uma preparação?
Apenas em casos específicos. Agora, estou trabalhando para falar inglês com sotaque espanhol para o filme “Hemingway & Gellhorn” [de Philip Kaufman], no qual interpreto um professor de origem espanhola.
Já tive outras experiências, mas nunca me empenhei para tirar o sotaque que tenho naturalmente.
A língua é uma dificuldade para brasileiros em Hollywood?
Qualquer cidadão de qualquer parte do mundo que tente trabalhar com outra língua terá as mesmas dificuldades. Independentemente de ser brasileiro ou iugoslavo, tem seu sotaque, que o categoriza e o limita. É um obstáculo.
Há restrição a certos papéis?
Talvez sim, acaba acontecendo. Mas noto uma abertura no mercado em geral, especialmente em Hollywood. Há seis anos, quando fiz meu primeiro trabalho lá, era bem limitado. Havia o estereótipo do latino e os papéis que apareciam iam nessa direção.
Hoje em dia, vejo que, com a globalização, você passa a fazer parte do grupo dos estrangeiros. Você não compete apenas ao papel de latino, mas ao de estrangeiro de uma forma geral.
Não é possível pegar um papel de americano?
Só se você conseguir fazer o sotaque do americano. Ou seja, se enganar os americanos. É preciso ter um domínio extremo da língua e trabalhar muito para neutralizar seu sotaque.
Mas abre uma gama maior de papéis…
Assim diz a lenda. Eu não sei. Sem dúvida, uma limitação a menos só abre portas. Mas é um trabalho que exige dedicação. É uma coisa que não adianta fazer, parar e fazer de novo. É preciso conviver muito com o universo deles e falar muito em inglês.
Você pretende fazer isso?
Vivo um dia de cada vez. Não planejo. Até agora, tenho me dividido bastante. Sou muito apegado às coisas que tenho aqui e não consigo ficar longe tanto tempo.
Não se mudaria para os EUA?
Não posso dizer o que faria no futuro. Hoje é assim que estou feliz, vivendo dividido, e não me concentrando só lá. Sei da importância disso, mas o que faz sentido para mim agora é a vida que levo.
Fonte: Folha de S. de São Paulo