Não basta andar de bonde. É preciso ouvir todas as explicações que os guias de turismo vão desfiando pelo caminho. Não basta ouvir os guias. É melhor descer para verificar de perto algumas atrações do trajeto que a administração municipal estendeu para 5 Km, ao longo dos quais se encontram cerca de 40 pontos de interesse turístico, histórico e cultural. Em síntese, são essas as recomendações dos passageiros que conheceram o total do percurso da Linha Turística, que teve o último traçado inaugurado na sexta-feira (11), na Praça Mauá, onde fica a estação de embarque. Ampliação que trará, a reboque, o aumento do raio de revitalização do Centro Histórico de Santos.

A extensão do itinerário, que levará cerca de 50 minutos, foi inaugurada na sexta-feira (11), às 10h, na Praça Mauá, onde fica a estação inicial. O roteiro contará com dois pontos de parada para desembarque e reembarque: Palácio Saturnino de Brito e Outeiro de Santa Catarina.

O primeiro prédio, construído no final do século XIX e sede da Sabesp, fica aberto para visitação de terça a domingo, das 11h às 18h. O Outeiro, marco da fundação da cidade, abriga a Fams (Fundação Arquivo e Memória de Santos) e pode ser conhecido de segunda a sexta, das 9h às 17h, e nos finais de semana e feriados no mesmo horário do bonde, das 11h às 17h. No local, podem ser vistos maquete que mostra Santos em 1800 e vídeo sobre a história do município.

A nova tarifa é de R$ 5,00, com isenção para menores de cinco anos e guias de turismo, desde que estejam trabalhando no acompanhamento de grupos. O decreto 5.463 estabelece também a gratuidade para viagens agendadas por grupos de entidades filantrópicas e de escolas públicas de ensino fundamental sediadas no município e respectivos professores/responsáveis; para grupos de centros de convivência da Seas (Secretaria de Assistência Social) e de treinamento e reciclagem profissional promovidos pela Setur (Secretaria de Turismo). Maiores de 60 anos, estudantes (com documento de identificação escolar) e grupos de entidades assistenciais (devidamente certificadas) têm 50% de desconto na tarifa.

Quem costuma se preparar para os passeios pode conferir as informações sobre o trajeto. ” Ele narra acontecimentos que influenciaram ou sofreram influência do contexto histórico nacional”, reafirma o prefeito João Paulo Papa.


PERCURSO DETALHADO

Praça Mauá
O ponto de partida corresponde ao Marco Zero de Santos. Esse marco distrital está trancafiado numa peça em granito negro de 1,20 m de altura, vedado em tubo concretado a 35 cm abaixo do terreno. A praça possui também o busto do Visconde de Mauá, figura de proa do empresariado brasileiro do século XIX, além da Ninfa com Concha, réplica de uma estátua que se encontra nos jardins do Palácio de Versailles.

Praça Rui Barbosa
As linhas barrocas da Igreja do Rosário atuam como pano de fundo para o monumento ao santista Bartolomeu de Gusmão, o “padre voador”. Com seu aeróstato de ar quente, ele foi o precursor da navegação aérea.

Três ruas
A rua Augusto Severo era o caminho por onde se esgueiravam os escravos que se escondiam na Igreja do Rosário, em fuga para os quilombos da região. Quando o bonde vira na Rua Amador Bueno vê-se o prédio que abrigava a Biblioteca Alberto de Souza com seus 30 mil títulos, agora instalados na Sociedade Humanitária. O trajeto continua pela Frei Gaspar, ponto comercial de inúmeras óticas.

Av. São Francisco
O Palácio Saturnino de Brito, sede da Sabesp, tem grande porta de ferro batido que se abre para o hall de ordem jônica. A escadaria de mármore centraliza, sobre o patamar, o vitral denominado Os Bandeirantes. Segue-se o edifício do antigo Desinfectório.

Praça Correia de Melo –
A Escola Estadual Barnabé no ano de 1932 levantou a bandeira da Revolução Constitucionalista, servindo de quartel e posto de alistamento militar, abrigando ambulatório médico, dormitório e escritório. Atrás fica o Monte Serrat. Situado a 157 m do nível do mar, dispõe de acesso por bondinho sobre trilhos. Quem tiver fôlego pode enfrentar a escadaria de 417 degraus. Além de terraços e mirante, inclui a capela da padroeira da cidade, Nossa Senhora do Monte Serrat. No sopé do morro começa a Via Sacra ao ar livre, que serpenteia ao longo da escadaria, à semelhança de outra da Espanha. Consta de nichos com cenas em bronze mostrando os passos de Jesus em direção ao Calvário. Ainda ao pé da mesma montanha, a singeleza da Fonte Itororó não faz jus à fama da nascente que inspirou os versos da canção: “Eu fui no Itororó / Beber água e não achei… “ Embora na Bahia também exista uma fonte com esse nome, historiadores comprovam que se deve à nascente de Santos a inspiração da música, já que a melodia é própria do folclore paulista. Ao lado, a antiga sede da Companhia das Águas do Itororó, onde parece que as lavanderias públicas eram freqüentadas pelas “belas morenas que no Itororó deixei…”

Praça Batista de Miranda
Conhecida como “castelinho dos bombeiros”, a antiga sede da corporação está sendo recuperada para receber a Câmara Municipal. Foi projetada pelo engenheiro Maximiliano Hehl, responsável ainda pelas catedrais de São Paulo e Santos, e possui duas torres ameiadas que lhe dão um ar de castelo medieval.

Praça José Bonifácio
Depois de seguir pela Rua Bittencourt, o bonde entra na Praça José Bonifácio, onde o monumento-mausoléu Filhos de Bandeirantes apresenta gravados o nome dos 39 combatentes santistas mortos na Revolução Constitucionalista. Na esquina com a Rua Braz Cubas, a Sociedade Humanitária ocupa edifício de três andares com biblioteca. Seus salões assistiram a importantes campanhas beneficentes e a bailes em grande estilo. Foi lá que Guiomar Novais, ainda adolescente, exibiu-se pela primeira vez. No outro lado da esquina fica o Fórum de Santos. Com sete andares, é o segundo do estado em movimento, somente superado pelo paulistano. Sua pedra fundamental foi lançada em 1950, mas a construção só terminou em 1962. Morosidade inferior apenas à vizinha Catedral, cuja pedra fundamental foi benta em 1909. E embora inaugurado em 1924, o templo de influência neogótica teve as obras encerradas em 1967. Mas a construção da cripta estendeu-se até 1969. A igreja localiza-se na esquina da Rua Amador Bueno. Do outro lado situa-se o Teatro Coliseu, cuja restauração representou um salto da tecnologia de 1909 – ano em que abriu as portas – para a modernidade de 2006. A marquise da entrada foi uma das modificações que o projeto original, importado da Europa, sofreu para se adaptar ao clima tropical.

INTEGRAÇÃO DE CIRCUITOS
A partir daí o novo itinerário une-se à rota existente desde abril de 2009.

Rua General Câmara
O casario desta rua está na linha de frente das boas oportunidades de negócios no município, já que o Projeto Alegra Centro oferece incentivos fiscais e isenções tributárias a firmas que recuperam os imóveis para se estabelecer na região. Ali se localiza o edifício de A Tribuna, centenário jornal da Baixada Santista.

Praça Rui Barbosa
Rumo à região do Valongo, o trajeto volta a contemplar a Praça dos Andradas, antigo Largo do Rosário, que dispõe de monumento ao padre santista inventor do balcão, Bartolomeu de Gusmão, e onde se encontra a Igreja do Rosário, de inspiração barroca.

Rua do Comércio
Esta rua pode parecer familiar para o Brasil inteiro, já que vive “posando” como cenário de novelas. Na primeira travessa exibe-se outra “estrela” das telonas e telinhas: a Rua XV, que já passou por restauro. É o endereço da Construtora Fênix, antigo Palácio da Banca Italiana Di Sconto – o primeiro imóvel do Centro a abraçar a causa da revitalização – e da Bolsa de Café. Nomes como Exportadora de Café Guaxupé, Unicafé, Edifício Rubiácea, Hamburg Süd e Aliança Navegação e Logística vão revelando as bases históricas da economia local. A Delegacia da Receita Federal ocupa o prédio com vestígios do neoclassicismo no frontão triangular das janelas. Segue-se o Espaço Cultural Frontaria Azulejada, em que sete mil peças, em branco e azul, revestem a fachada.

Daí até o Largo Marquês de Monte Alegre pode-se observar o casario que invade os dois lados da rua, multiplicando portas e janelas encimadas por bandeiras de ferro em arco, emolduradas por umbrais e vergas de pedra. São antigas moradias, por vezes coroadas por platibandas e com balcões guarnecidos de guarda-corpos de ferro que se alternam com balaustradas de coluninhas, volta e meia sustentados por cães de pedra. Imóveis como esses é que o Projeto Alegra Centro visa restaurar, oferecendo incentivos fiscais e isenções tributárias a investidores.

Largo Marquês de Monte Alegre
Expõe a beleza barroca da Igreja de Santo Antônio do Valongo, que possui um dos raros tronos rotativos do País. A seu lado, a Estação Ferroviária Santos Jundiaí, cuja implantação se deve ao visconde de Mauá, hoje é sede da Secretaria Municipal de Turismo. Traços da arquitetura vitoriana notam-se no telhado em declive – que nas regiões frias evita o acúmulo de neve – , bem como nos três leões simbolizando o poderio britânico. Os Casarões do Valongo, situados em frente, serão recuperados para receber o Museu Pelé.

Rua Tuiuti
A área deteriorada do cais está com os dias contados. Em oito armazéns será implantado o Porto Valongo, complexo turístico, cultural, náutico e empresarial. Antes da construção do porto, era ali o local nobre da cidade, à beira da praia, razão pela qual se destaca, na confluência com a Frei Gaspar, o Palacete Mauá. O sobrado resiste ao tempo como a residência mais antiga do município, embora posteriormente haja abrigado várias firmas, até mesmo o Banco Mauá. Hoje sedia a Hard Rand e Cia. Do outro lado, pode-se admirar a fachada traseira da Bolsa Oficial de Café, em que estátuas representando a Indústria, o Comércio, a Lavoura e a Navegação ornam a torre do relógio de 40 m. A seguir vem a Rua Riachuelo, onde se observa a fachada posterior do prédio de influência neoclássica da Associação Comercial de Santos, a mais antiga entidade de classe do Estado.

Praça Barão do Rio Branco
A modernidade da arquitetura do Banco do Brasil e da Receita Federal contrastam com o monumento a Eduardo Cândido Gaffrée e Eduardo Guinle, no centro da praça. Eles ganharam concessão para exploração do porto por 90 anos, em troca da construção do cais, no final do século XIX. O trecho inicial, de 260 m, tinha sido implantado por Brás Cubas (1892). Passado ainda mais distante acentua as linhas barrocas da Igreja da Ordem Terceira do Carmo – em cujos retábulos estão representados os passos de Cristo até o Calvário – bem como na Igreja da Ordem Primeira do Carmo, que dispõe de altares folheados a ouro. Ao lado dos templos, o Panteon dos Andradas guarda os restos mortais de José Bonifácio de Andrada e Silva e de seus irmãos, santistas que moveram céus e terra pela causa abolicionista e pela independência do Brasil.

Praça da República
Exibe a primeira estátua construída na cidade e que homenageia Brás Cubas, fundador da vila e do primeiro hospital do País. Ali entra no mapa o prédio da Alfândega, erguido nos padrões do ecletismo, com linguagem clássica e influência art-déco. Mais de 60 janelas são protegidas por grades de ferro, com detalhes simulando grãos e folhas de café, produto cuja exportação por muito tempo respondeu pelo progresso do município.

Rua Visconde do Rio Branco
O bonde passa ao largo da Casa do Trem Bélico, localizada na Rua Tiro Onze, antigo depósito de munições e acessórios de abastecimento de quartéis e fortes. O próximo ponto, marco da fundação da cidade, é o Outeiro de Santa Catarina, desbastado para obtenção do aterro destinado à instalação do porto. Sobre a rocha restante foi erguida uma casa acastelada, com janelas em ogiva e ameias nos muros, atual sede da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams).

Rua da Constituição
O terreno do Outeiro que alcança a Constituição recebeu uma praça no ano 2000, resultado de parceria com a empresa Multicargo.

Augusto Severo e Cidade de Toledo
No pequeno trecho da primeira rua vê-se a fachada traseira do Paço Municipal. Na segunda, salta aos olhos o edifício dos Correios e Telégrafos, de inspiração neoclássica, com grades de portas e janelas em que o tema do café é recorrente , nos detalhes de ferro imitando folhas e grãos da rubiácea.

Praça Mauá
Antes de chegar ao ponto final – onde a marquise protege do risco do sol e da chuva – chama a atenção o Palácio José Bonifácio, arquitetura eclética com influência neoclássica. A fachada principal conta com imponente escadaria, que culmina ladeada por duas estátuas. Uma representa o comércio, na figura do deus romano Mercúrio, que corresponde a Hermes, na mitologia grega. A outra mostra a deusa romana Minerva, que é a Palas Atenas da Grécia Antiga e simboliza a sabedoria, a ciência e as artes.