Por Adilson Munin*

Sustentabilidade: tema que atinge neste momento uma fase onde o assunto deixa ser um modismo ou simplesmente explorado comercialmente e passa a fazer parte de um cenário onde a preocupação com segurança, meio ambiente, conforto e, principalmente longevidade, se torna tão importante quanto o tamanho, a localização, e o valor de um determinado empreendimento.

Como toda mudança gera desconfiança e apreensão, não será diferente neste caso. Porém, se voltarmos um pouco na história, veremos que ocorreram mudanças em diversos setores, produtos, normas e legislações, que acarretaram quebra de paradigmas e conceitos e que hoje fazem parte do cotidiano de cada um de nós e não mais conseguimos conviver sem eles.

É o caso da tão conhecida ISO 9000, que causou semelhante apreensão inicialmente e apostas em seu desuso, mas que hoje em dia, aplicada de forma correta, tem se tornado uma excelente ferramenta para manutenção da qualidade, bem como para melhoria contínua de produtos, processos e serviços.

Entende-se por sustentabilidade aquilo que supre as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades (Nosso Futuro Comum, Editora FGV). Sendo assim quando pensamos em sustentabilidade na impermeabilização, certamente estaremos pensando não somente na garantia do conforto e estanqueidade da obra, mas também no impacto ambiental causado pela aplicação de determinado produto, na longevidade do mesmo após aplicado, na preservação da estrutura como um todo e também na destinação final do mesmo quando da necessidade de sua remoção.
Dessa forma, devemos assumir uma responsabilidade que vai além simplesmente da garantia da estanqueidade, mas da responsabilidade sobre o ciclo completo de vida do produto. Como disse Philip Kotler, professor de Marketing Internacional da Kellog School of Management na Northwestern University-USA, “os consumidores julgarão, cada vez mais as companhias por seu desempenho com respeito ao uso sábio e eficiente dos materiais e dos processos de produção”.

A equação é clara, a maioria das empresas ainda não despertou ou não sabe como trabalhar essa nova exigência do mercado consumidor, especialmente no Brasil onde 92% da população se diz preocupada com as consequências das mudanças climáticas.
De um lado, consumidores exigentes e preocupados com as mudanças climáticas do planeta. Do outro, empresas buscando inovação, resultados positivos e novos mercados. Mas, na questão da impermeabilização, qual a preocupação que as indústrias, construtoras, engenheiros e aplicadores devem ter em relação aos produtos e serviços relacionados com a preservação das estruturas contra a infiltração e vazamentos no aspecto da sustentabilidade?

Reconhecer a necessidade de mudanças, quebra de paradigmas e conceitos pré-estabelecidos em relação ao assunto.
Canalizar recursos para pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias visando a melhoria de produtos e processos para o atendimento das novas solicitações.
Estabelecer um planejamento a curto, médio e a longo prazo com o objetivo de envolver todo o ciclo de vida do produto.
Avaliar as possibilidades para uma maior utilização de insumos reciclados e recicláveis.
Diminuir a produção de itens à base de solventes, preferindo os produtos à base d’água, alto sólidos e até mesmo os híbridos.
Aperfeiçoar as tecnologias para utilização dos produtos pré-fabricados ou pré-moldados com o objetivo de viabilizar a sua utilização de forma mais ampla.
Buscar por fornecedores cada vez mais próximos às instalações industriais.
Dar preferência às especificações voltadas à sustentabilidade.
A rotulagem dos produtos deve conter todas as informações necessárias com relação ao produto, isto é, o consumidor deve ser informado e ter a possibilidade de escolha pelo melhor produto.
Implementar a ecoeficiência como paradigma de atuação.

Os produtos destinados à impermeabilização em sua grande maioria são derivados de fontes oriundas do petróleo, como o asfalto, solventes, polímeros e aditivos e também de recursos esgotáveis como água e madeira e, certamente, estes mesmos produtos ainda serão por muito tempo produzidos através destas fontes. No entanto, cabe à indústria e ao formulador a consciência na utilização destes recursos através do aperfeiçoamento de tecnologias visando cada vez mais a diminuição da agressão à natureza e ao próprio ser humano.

Outro aspecto de igual importância e preocupação está na redução das emissões dos compostos orgânicos voláteis (COV), pois tais emissões são responsáveis de forma direta pela agressão à camada de ozônio. Podemos dizer que o setor de impermeabilização já possui uma vantagem com relação ao tema sustentabilidade, pois numa simples reflexão concluímos que a impermeabilização é proteção e, proteção contra degradação, portanto, a sustentabilidade já é uma característica inerente do processo, embora talvez ainda não tenhamos parado para pensar sobre este ponto de vista.

Neste aspecto sentimos que estamos um passo à frente de muitos segmentos, porém, ainda nos falta uma longa jornada para que um dia possamos olhar para um determinado produto e conhecer todo o seu ciclo de vida, podendo até prever o seu reúso ou reciclagem, motivo pelo qual o empenho, dedicação e sentimento de preservação do meio ambiente devem nos impulsionar a alcançar estes objetivos para que o setor possa colaborar na melhora da qualidade de vida em nosso planeta.

Adilson Munin é Técnico responsável pelo setor de Pesquisa e Desenvolvimento na Unidade de Asfaltos da Viapol, especializada em soluções para a impermeabilização e proteção das obras da construção civil.