No ensaio intitulado Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo, publicado em 12 de maio de 1920, Vladimir Lênin tinha como objetivo criticar o comportamento tático e estratégico extremamente radical de uma parte dos comunistas membros da Terceira Internacional – sobretudo os alemães e os ingleses – acusando-os de desvio ideológico à esquerda.
Essa idéia de Lênin, de que o esquerdismo seria uma espécie de doença ultra-realista, portanto infantil, produzindo sintomas tão à extrema esquerda a ponto desta se encontrar com a direita pelo simples efeito de atração polar, tornando-a inexequível, é perfeitamente aplicável nos dias atuais com relação a alguns fenômenos midiáticos envolvendo o conceito de sustentabilidade.
O conceito de desenvolvimento sustentável não é uma onda ou uma moda. Envolve a relação da atividade humana com o meio ambiente, a economia, a sua própria convivência em sociedade, a sua cultura, entre outros aspectos importantes. A idéia é preservar os recursos naturais para as gerações futuras sem bloquear o desenvolvimento industrial, estabelecendo mudanças de comportamento para equacionar a questão de como manter a qualidade de vida sem destruir o planeta.
A indústria e o ambiente são a chave da questão. O produto industrial deve ser de boa qualidade e durável, ter custo compatível ao que se propõe e, fundamentalmente, demonstrar que seu ciclo de vida preserva o ambiente da melhor maneira possível – mais que seu antecessor ou concorrente. Fora disso, estamos diante do “falso verde”, ou, para citar a expressão da moda, greenwashing, que não passa de um procedimento de marketing para colorir a imagem sem mexer no conteúdo.
Um dos setores essenciais ao tema da sustentabilidade é a construção civil. Proporciona o conforto da moradia às famílias ao mesmo tempo em que consome os recursos naturais e gera resíduos. Como equacionar isso é o desafio. Não basta produzir reutilizando tubos de creme dental ou embalagens de leite; é necessário fornecer produtos com durabilidade para a perenidade das residências e de boa qualidade para a segurança dos moradores.
No caso do fibrocimento, por exemplo, há no mercado produtos que não substituem o amianto, mas são boas alternativas, como as fibras de PVA e de celulose em algumas aplicações. Entretanto, são inúmeros os casos de “falsos verdes” ao longo da história, que se auto-intitulam substitutos do amianto e são aceitos como tal por parte da mídia, que adquire a versão sem comprovar a veracidade do fato.
Há mais falsos casos que fatos. O resultado é um entusiasmo inicial fora do comum com o novo produto – e uma enorme decepção em médio prazo com seu desempenho, muitas vezes traduzida na destruição completa da residência pelas águas das chuvas. Isto não é sustentabilidade, é sustentabilismo. Outros produtos saudados como “substitutos” de alguma coisa simplesmente não acontecem e logo a mídia que os veiculou com ufanismo, silencia. Eis o sustentabilismo.
Sustentabilismo é o conceito caricato da sustentabilidade, o modo infantil de dar guarida a qualquer iniciativa que se apresente como amiga do meio ambiente sem checar sua veracidade. Tem um poder nefasto porque credita o falso. Impede a transformação do produto industrial de forma mais apurada para que o sucedâneo seja eficiente econômica e tecnicamente, preservando as empresas, os empregos e a geração de riqueza durante a transição.
Um fenômeno infantil por tendência, que, tornado habitual, pode macular o ideal de desenvolvimento sustentável que se faz necessário em nosso planeta nos dias atuais. O ideal é que nenhuma atividade industrial deva ser proibida ou permitida sem antes identificar seu propósito e o impacto do seu ciclo de vida.
Cabe a cada um de nós observar e denunciar sempre esse fenômeno, para que o Brasil possa aplicar os reais conceitos de sustentabilidade, desabrigando correntes oportunistas que se aproveitam da mídia para transformar fatos em onda.
Gilberto Putini Martim é advogado e diretor da Infibra, fabricante de materiais de construção civil.
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