Na Cidade das Margaridas, como em qualquer outro jardim, o processo de amadurecimento das flores se encontra em diversos estágios. Algumas delas, já estão robustas, vingadas, já se transformaram em outras flores e em outros frutos. Outras acabaram de receber adubo e ainda precisam de orientação para alcançar o pleno desenvolvimento.
Na Cidade das Margaridas, um outro diferencial é que as flores usam chapéus coloridos para demarcar cada um dos vários canteiros que formam o mosaico das regiões brasileiras. As margaridas ocuparam a sua cidade para mostrar para todos que precisam de muitas coisas para serem completas. Querem liberdade, produzir com sustentabilidade, informação, um melhor sistema previdenciário. Querem reconhecimento e também ver vingar a sua luta por um mundo rural melhor.
Todas elas têm as mãos calejadas, pois são trabalhadoras rurais. Lidam com o serviço pesado da roça. Mas são mãos duplamente calejadas, pois assim que terminam as tarefas no roçado, um outro mundo de trabalho aguarda por elas. Têm que cuidar da comida. Têm que dar conta da roupa limpa. Têm que cuidar dos filhos e dos maridos. Têm problemas parecidos com os das companheiras da cidade, pois também sofrem violência doméstica e preconceitos.
Maria Joana Barros Mendonça, de 54 anos, é trabalhadora rural desde os 18 anos. Na pequena comunidade de Matinha, no interior do Maranhão, com 21 outros moradores, se tornou líder sindical, depois de anos de participação nos movimentos de base da igreja, dentro de grupos de jovens.
Maria Joana é mãe de seis filhos e quatro netos. Cuida de todos dos netos e já cuidou dos filhos que hoje são adultos e não necessitam mais ser sustentados por ela. Tem orgulho de contar que criou todos praticamente sozinha no cabo da enxada.
Seu maior orgulho hoje é ajudar outras mulheres. Participou de todas as marchas. Nas três primeiras veio sozinha, mas agora já trouxe outras 12 companheiras. “No movimento das margaridas, a gente se liberta e tem o dever de libertar outras pessoas”, confessa.
As amigas Ivonete Marques e Regina Nogueira aproveitaram a oportunidade de o movimento ter aceitado a participação de trabalhadoras da cidade para participar da marcha. As duas são professoras em São Luís (MA) e pertencem ao Sindicato dos Trabalhadores na Educação. Estavam muito felizes com toda a movimentação ao redor, mas achavam mais graça dos poucos homens presentes na marcha.
“No nosso ônibus vieram 40 mulheres e cinco homens. E eles ficaram quase o tempo todo calados, porque toda vez que abriam a boca, era a maior gozação”, contou Ivonete. Segundo ela, durante a viagem, eles estavam sendo tratados como “cravos”, mas nós, na verdade, estávamos chamando-os de “escravos”, contou dando muita risada.
De Bragança Paulista, em São Paulo, Margareth Alves Sardinha e Alice Oliveira Ferreira, explicam que o objetivo da Marcha é mostrar para o Brasil que a mulher existe. De acordo com Margareth, a trabalhadora rural sabe o que é uma nascente, sabe o que é uma reserva legal e também sabe porque existem as Áreas de Proteção Ambiental (APPs). E sabem ainda construir e fazer projeto. “Por que então não saberiam lutar por seus direitos?”, pergunta.
fonte: ASCOM