“No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade.” (Chico Mendes)

“Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta, até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Então eu quero viver. Ato público e enterro numeroso não salvarão a Amazônia. Quero viver!” (Chico Mendes)

Francisco Alves Mendes Filho, o popular Chico Mendes, nasceu no município de Xapuri, sudoeste do Acre, no dia 15 de dezembro de 1944 e dedicou sua vida a três atividades primordiais: foi seringueiro, sindicalista e ativista ambiental brasileiro. Sua luta intensa pela preservação da Amazônia o tornou internacionalmente conhecido, porém, foi a causa de seu assassinato em 22 de dezembro de 1988, também em Xapuri.

Chico Mendes aprendeu o ofício de seringueiro com seu pai, quando ainda era criança e só aprendeu a ler aos vinte anos de idade, pois na maioria dos seringais não havia escolas e nem intenção dos proprietários de terras em criá-las.

Sua vida como líder sindical teve início em 1975, como secretário geral do recém-fundado Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia. A partir de 1976 participou ativamente das lutas dos seringueiros para impedir o desmatamento através dos “empates” – manifestações pacíficas em que os seringueiros protegem as árvores com seus próprios corpos. Organizava também várias ações em defesa da posse da terra pelos habitantes nativos.

Em 1977 participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, e foi eleito vereador pelo MDB local, ocasião em que recebeu  as primeiras ameaças de morte, por parte dos fazendeiros, e começau a ter problemas com seu próprio partido, que não se identificava com suas lutas. No ano de 1979, Chico Mendes reúne lideranças sindicais, populares e religiosas na Câmara Municipal, transformando-a em um grande foro de debates. Acusado de subversão, é submetido a duros interrogatórios. Sem apoio, não consegue registrar a denúncia de tortura que sofrera em dezembro daquele ano.

O seringueiro também foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e um dos seus dirigentes no Acre, tendo participado de comícios com Lula na região. Em 1980 foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional a pedido de fazendeiros da região, que procuraram envolvê-lo no assassinato de um capataz de fazenda, possivelmente relacionado ao assassinato do presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Brasiléia, Wilson Sousa Pinheiro. Em 1981, Chico Mendes assumiu a direção do Sindicato do Xapuri, presidindo o mesmo até sua morte e, em 1984, foi acusado de incitar posseiros à violência, sendo julgado pelo Tribunal Militar de Manaus, porém absolvido por falta de provas.

O ativista ainda liderou o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, em 1985, ocasião em que foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros. Dois anos mais tarde, em 1987, Chico Mendes recebeu a visita de alguns membros da ONU, em Xapuri, que puderam ver de perto a devastação da floresta e a expulsão dos seringueiros, causadas por projetos financiados por bancos internacionais e, ao longo do ano de 1988, o seringueiro participou da implantação das primeiras reservas extrativistas criadas no Estado do Acre.

As ameaças contra o seringueiro se intensificaram após a desapropriação do Seringal Cachoeira, em Xapuri, propriedade de Darly Alves da Silva, já que por várias vezes ele denunciou publicamente os nomes de seus prováveis responsáveis. E, em 22 de dezembro de 1988, exatamente uma semana após completar 44 anos, Chico Mendes foi assassinado na porta de sua casa por sua intensa luta pela preservação da Amazônia. Casado com Ilzamar Mendes, deixou dois filhos, Sandino e Elenira, na época com dois e quatro anos de idade, respectivamente.

A justiça brasileira condenou os fazendeiros Darly Alves da Silva e Darcy Alves da Silva, responsáveis por sua morte, a 19 anos de prisão, em dezembro de 1990. Darly fugiu em fevereiro de 1993 e escondeu-se num assentamento do Incra, no interior do Pará, chegando mesmo a obter financiamento público do Banco da Amazônia, sob falsa identidade. Só foi recapturado em junho de 1996. A falsidade ideológica rendeu-lhe uma segunda condenação: mais dois anos e oito meses de prisão.

Os vinte anos sem este importante homem, que lutou arduamente em prol da defesa e preservação da Amazônia, traz a tona a boa lembrança da garra e perseverança em busca de um objetivo, mas também a triste realidade que impera na justiça brasileira, uma vez que, em  dezembro de 2007, na mesma semana em que o assassinato de Chico Mendes completava 19 anos, uma decisão da juíza Maha Kouzi Manasfi e Manasfi beneficiou o fazendeiro Darly Alves da Silva com a prisão domiciliar até março de 2008, no conforto na casa-sede da Fazenda Paraná, em Xapuri, local onde a morte de Chico Mendes foi tramada e onde o fazendeiro poderá cuidar de uma gastrite crônica. Darly havia sido recolhido ao cárcere de Rio Branco em agosto de 2006, depois de ter sido julgado e condenado em júri popular como mandante do crime. Após o assassinato de Chico Mendes se juntaram mais de trinta entidades sindicalistas, religiosas, políticas, de direitos humanos e ambientalistas para formar o “Comitê Chico Mendes”. Eles exigiram providencias e através de articulação nacional e internacional botaram pressão nas órgãos oficiais para que o crime seja punido. Em 1990 os fazendeiros Darly e Darcy Alves da Silva foram considerados culpados do assassinato e condenados a 19 anos de reclusão. Em 1993 eles escaparam da prisão e foram novamente captados em 1996. O caso Chico Mendes despertou pela primeira vez a atenção internacional para os problemas dos seringueiros. Através do assassinato, Chico Mendes tornou-se mais uma vez representante dos muitos outros moradores da floresta assassinados, desapossados ou ameaçados.

Revista Ecoturismo