Se a comunidade de expatriados em Dubai precisava de mais alguma prova de que a festa acabou, a recente crise financeira se encarregou dela. A cidade-Estado no deserto está sendo duramente atingida, na medida em que seu boom impelido pelo setor imobiliário e o turismo está se esvaziando em decorrência da recessão mundial.

“A atmosfera na cidade decididamente mudou”, disse Rudy Bier, um consultor imobiliário de 30 anos da Grã-Bretanha, que se mudou para Dubai há três anos. “Nós baixamos um pouco mais para o chão.”

Como muitos outros em Dubai, Bier viu seus ganhos caírem no ano passado porque as comissões secaram e as empresas impuseram reduções salariais. O antes ubíquo brunch “tudo que puder comer e beber” de Dubai agora é um caso raro.

“Quando me mudei para cá, todos tinham muita renda disponível e eu nem conferia os preços no supermercado. Mas isso definitivamente mudou; as pessoas estão sentindo o aperto. Todos ficaram um pouco mais cautelosos.”

Bier, como muitos moradores em Dubai, conhece muita gente que perdeu o emprego no ano passado, quando as repercussões da crise financeira mundial atingiram as costas dos Emirados Árabes Unidos. Ele espera que o anúncio da Dubai World não signifique mais sofrimentos, justo quando a economia parecia estar se recuperando. “Gostaria de pensar que o pior já passou”, disse ele. “Mas quem sabe?”

As demissões têm sido pesadas e, nos Emirados, onde o emprego está ligado à capacidade da pessoa de permanecer no país, muitos são obrigados a sair se não encontrarem trabalho.

A Dubai World cortou 12 mil postos de trabalho no mês passado, enquanto a Deyaar, uma das maiores empreiteiras de Dubai, dispensou 20% do pessoal.

Entretanto, Nina Hoffman, uma expatriada alemã de 34 anos que trabalha em recrutamento, disse que houve um benefício da recessão: as jornadas de trabalho na cidade caíram pela metade. Os alugueis também despencaram e aproximadamente uma em cada quatro unidades está hoje vazia. As placas de “aluga-se”, uma vista rara nos anos de expansão, são agora comuns.

“Muita gente que estava aqui para ganhar dinheiro fácil partiu”, disse Hoffman. “Havia muitas pessoas que estavam aqui só pelo dinheiro e eles as trataram como se ainda estivessem na Grã-Bretanha ou na Europa, mas, ao primeiro sinal de encrenca, foram para casa.”

Apesar de o tráfego em Dubai parecer mais tranquilo, a Estrada Sheikh Zayed, a rodovia no deserto poeirento que liga a cidade à sua afluente vizinha, Abu Dabi, vive apinhada todos os dias pelos moradores de Dubai que se deslocam para trabalhar na capital. Carros com placas de Dubai agora enchem as ruas de Abu Dabi.

“Muitas pessoas que ainda estão aqui tiveram realmente que lutar para permanecer, para encontrar novos empregos fora de Dubai, ou aceitar empregos com salários mais baixos”, explicou Hoffman.

Estadão