Capacidade de se reinventar continuamente garantiu à empresa americana longevidade única no setor de tecnologia

“Progresso é a palavra que melhor define a história da IBM no mundo”, afirma a porta-voz da empresa no Brasil, Fabiana Galetol

Para os que acham que a escalada tecnológica é algo que surgiu há poucas décadas, o centenário da norte-americana International Business Machines, ou simplesmente IBM, que será celebrado nesta quinta-feira, representa a quebra de um paradigma. De uma empresa de cartões perfurados criada em 1911 no estado de Nova York, a IBM transformou-se em um dos maiores conglomerados tecnológicos do mundo, chegando a exercer quase um monopólio na fabricação de computadores centrais nos anos 1960. Apesar de estar hoje atrás da Apple e da Microsoft em valor de mercado – a IBM vale 197 bilhões de dólares, enquanto estas são avaliadas em, respectivamente, 300 bilhões de dólares e 200 bilhões de dólares –, sua soberania em alguns mercados é indiscutível. Com mais de 400 mil funcionários espalhados por 170 países, ela revolucionou o que o mundo entende hoje por tecnologia da informação. (Veja o vídeo oficial dos 100 anos da IBM)

Nestes cem anos de história, a IBM foi obrigada a se reinventar para continuar existindo. Foi assim desde seus primeiros anos de vida. A companhia surgiu graças à fusão de três empresas especializadas em atividades completamente distintas: uma dedicada à relojoaria, outra a balanças e, por fim, uma empresa de ferramentas para cálculo utilizadas por organizadores do censo americano – esta última criada pelo matemático Herman Hollerith.

Crise de 1929 – Um dos principais exemplos de como a IBM lançava mão de atitudes ousadas foi durante a crise de 1929. Enquanto a maioria das companhias reduziu drasticamente a produção, a IBM continuou fabricando máquinas como se nada estivesse acontecendo. Quando, em 1935, o presidente Franklin Roosevelt criou o órgão de administração das aposentadorias, a empresa era a única a possuir estoque e tecnologia para tratar dos milhões de dados da previdência americana.

Nos anos 1950, nas mãos de Thomas Watson Junior, a empresa investiu na criação de um novo sistema de mainframes (os primeiros computadores centrais): o 360. A série tornou obsoletos todas as outras criadas por eles próprios. No final dos anos 1960, a liderança da IBM em computadores fez com que a empresa conquistasse uma participação de 70% do mercado mundial, de acordo com a revista The Economist. Ainda segundo a publicação, tal poder fez com que a companhia fosse chamada de “império do mal” pela autoridade antitruste dos Estados Unidos.

Um dos segredos para o sucesso é o fato de a IBM se considerar “uma instituição e não uma empresa de tecnologia”, afirmou a professora Rosabeth Moss Kanter, de Universidade de Harvard, à The Economist. Outro elemento importante é a disposição de seguir à risca o princípio de que a empresa não precisa ter a tecnologia como negócio principal, mas sim soluções tecnológicas para negócios – o que a torna extremamente versátil e líder mundial em criação de patentes. “As pessoas que conhecem nossa história ficam surpresas não só com a nossa longevidade, mas com o fato de termos nos reinventado continuamente. Se analisarmos as diversas inovações que a empresa trouxe para a sociedade nesse século, entendemos claramente que progresso é a palavra que melhor define a história da IBM no mundo”, afirma a porta-voz da empresa no Brasil, Fabiana Galetol.

Holocausto – Em 2001, a empresa foi alvo de críticas devido ao lançamento do livro A IBM e o Holocausto, do repórter Edwin Black. A obra sustenta a tese de que, durante a Segunda Guerra Mundial, uma subsidiária da companhia burlou a determinação de Washington que proibia as empresas americanas de fazer negócios com as nações do Eixo – o grupo fascista formado por Alemanha, Itália e Japão. De acordo com Black, ainda que indiretamente, a IBM teria fornecido equipamentos que ajudaram a organizar o transporte e o assassinato de milhões de judeus nos campos de concentração. A IBM alega que, nos anos 1930, perdeu, assim como outras empresas americanas, o controle de seus negócios na Alemanha nazista com a subida de Adolf Hitler ao poder.

Os tempos nem sempre foram fáceis. A empresa demorou para entrar no segmento de computadores pessoais e perdeu espaço com o surgimento de Apple e Microsoft – o que provocou uma grave crise entre o final dos anos 1980 e o início da década seguinte. No entanto, uma reestruturação de seus negócios deu início a uma nova fase com foco em soluções personalizadas para empresas. O grupo obteve faturamento de 29 bilhões de dólares em 2010 – um recorde – atuando essencialmente no fornecimento de grandes computadores centrais, centros de armazenamento de dados e serviços. Sua área deficitária de computadores pessoais foi vendida para a chinesa Lenovo em 2005.

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Fonte: VEJA