Hotéis palacianos e butiques de luxo em Paris, uma cidade que costuma ver desfilar a rica clientela do Oriente Médio nos meses de verão do hemisfério Norte, garantindo lojas cheias e vendas em ascensão, começam a vê-los partirem de volta para casa no começo deste mês de agosto, devido ao início do Ramadã, o mês de jejum muçulmano.

“Nunca vi carros tão caros diante do Plaza-Athénée”, exclama François Delahaye, dono do hotel parisiense que cobrou diária média em julho de 1.150 euros (cerca de R$ 2.570) e registrou uma taxa de ocupação também recorde, de 95%.

Esta clientela, que aluga suítes luxuosas ou andares inteiros para hospedar seus grupos, representa 15% dos “habitués” deste palácio da avenida Montaigne, ficando atrás dos Estados Unidos (20%) e do Reino Unido (18%).

“O Oriente Médio vem essencialmente no verão a Paris, Londres, Munique ou Genebra para fugir das altas temperaturas em seus países”, informa Eric Noyal, diretor-geral da Global Blue France, sociedade de serviços especializada em turismo.

As grandes lojas aproveitam e organizam mais e mais eventos em função das datas de fluxo da clientela estrangeira, como o Ano Novo chinês e russo.

Em junho e julho, a loja Printemps, do bulevar Haussmann, pôs em prática, em homenagem ao Oriente Médio, uma acolhida “palaciana”, com salão VIP, restaurante de comida libanesa, decoração com inspiração oriental e serviços personalizados.

ALTA DESEQULIBRADA

No verão, o Oriente Médio “representa cerca de 30% da clientela estrangeira”, ao contrário do restante do ano; de acordo com Sampath Perera, “administrador VIP” da Printemps.

Com 3,4% do conjunto geral da clientela estrangeira em 2010, ou seja, com 275 mil turistas apenas, são menos menos numerosos em relação a americanos ou europeus. Mas seu poder de compra é muito maior, explica Paul Roll, do Escritório de Turismo e Congressos de Paris.

Na Printemps, por exemplo, esta clientela pode gastar de 3.000 euros a 20.000 euros por dia. Uma gota d’água ao lado das encomendas especializadas feitas nas grandes casas de luxo: Louis Vuitton, Hermès ou ainda Chanel.

Daí a importância da data do Ramadã para o comércio. Neste ano, o mês de jejum e de preces começou com o mês de agosto. No ano passado, quando iniciou no dia 10 de agosto, o impacto foi sentido logo.

“As compras de produtos com taxas menores para os asiáticos ou russos explodiram, mas as dos sauditas não avançaram”, explica Noyal. “E agora, o que vai acontecer? indaga Serge Carreira, professor na Sciences-Po. Não podemos esquecer que o luxo, como o mundo dos negócios, fica mais lento durante este período anual, destaca ele.

“Não se pode lamentar esta perda de atividade, quando estaremos ganhando ao longo do ano”, acrescentou Paul Roll citando o forte avanço desta clientela na economia parisiense, de mais 28,7% em 2010.

fonte: Folha de Sp