Por causa da rigidez tática e do futebol compacto, o Corinthians é o mais europeu dos brasileiros

O desenvolvimento sustentável, sem destruir a natureza, é possível, apesar de o ser humano ser cada dia menos sustentável e menos viável.

Tite, com seu gostoso “titês”, já diz que o Corinthians tem sustentabilidade, confiabilidade e treinabilidade. Mostrou isso contra o Santos. Por causa da disciplina tática e do futebol coletivo e compacto, o Corinthians é o mais europeu dos times brasileiros.

Falta ao Corinthians mais troca de passes, outra característica dos bons clubes europeus. O time, como disse Tite, não tem nada a ver com o Chelsea que eliminou o Barcelona e o Bayern. O Corinthians costuma marcar mais à frente, enquanto o Chelsea não saia lá de trás.

Na Euro, quase todos os jogadores, na maior parte do tempo, atuam em uma faixa de campo e fazem as mesmas jogadas. Fica previsível. De vez em quando, surge um transgressor, com mais talento, para fugir do lugar-comum e fazer uma jogada decisiva.

Foi o que fez Schweinsteiger nos dois gols da Alemanha contra a Holanda. Ele, que era apenas um bom jogador pelos lados, é agora um excepcional volante. Os técnicos europeus estão descobrindo que os volantes precisam ter mais talento, pois são menos marcados e ficam mais com a bola. Mano Menezes deveria pensar nisso.

Predomina na Euro o passe seguro, com a parte interna do pé, de chapa, para não perder a bola. Há uma tendência de repetir o estilo do Barcelona e da Espanha. Isso é bom. Algumas vezes, fica monótono. Aí, surge novamente outro transgressor para dar um passe decisivo. Se não houvesse os transgressores, o futebol seria um confronto entre pranchetas e números. Muitos técnicos iriam gostar.

No Brasil, ao contrário, impressiona-me a pouca troca de passes e como se dá tanto a bola para o adversário, por meio de chutões e passes para o jogador marcado.

Na Euro, as linhas avançam e recuam ao mesmo tempo. Pouquíssimo se vê, o que é comum no Brasil, os volantes no meio-campo e os zagueiros encostados à grande área.

Não pense que morro de amores pelo futebol europeu. Lá, como aqui, há times e jogadores bons e ruins. Mas eles evoluíram na maneira de jogar. Mano sabe disso. O modelo da atual seleção é o europeu. Não temos de copiá-los, mas podemos aprender com eles, como aprenderam com nosso futebol.

As grandes equipes, em todas as épocas, unem a disciplina tática com a improvisação e a fantasia. Sem efeitos especiais, fica sem graça.

Tostão
Folha de S.Paulo
17/06/2012