Por uma questão puramente econômica, grandes empresas brasileiras anunciaram ontem em São Paulo um compromisso para reduzir suas emissões de gases que contribuem para o aumento do efeito estufa. O documento, apresentado durante um seminário realizado pelo jornal “Valor Econômico” e pela “Globonews”, é assinado por siderúrgicas, empresas de energia, empreiteiras, redes de supermercados, entre outros setores. As signatárias se comprometem, por exemplo, a publicar anualmente, a partir de 2010, um inventário de emissões de gases de efeito estufa. Assim como o governo federal, o setor empresarial ainda não apresentou metas de redução. Só a promessa de que fará algo.

A chamada “Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças Climáticas” também oferece sugestões ao governo, tanto para a reunião sobre clima de Copenhague, em dezembro, quanto para o cenário interno. Os empresários querem que a diplomacia brasileira, no fim do ano, assuma uma posição de liderança para a definição de metas claras de redução global de emissões de carbono, que defenda e agilize a implementação de mecanismos de desenvolvimento limpo e que regulamente o chamado Redd. Por esse mecanismo, recursos seriam dados para quem reduzisse o desmatamento.

No escopo nacional, a pedida não poderia ser outra: que o Brasil publique estimativas anuais de emissões e, a cada três anos, divulgue um inventário nacional. O último documento deste tipo que existe de forma oficial no país é de 1994.

Os compromissos divulgados ontem não são setoriais, mas individuais, assumidos por 18 grandes companhias nacionais. Mesmo assim, o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente), presente ao evento, classificou a carta lançada por parte do setor privado como histórica.

A fala de Roger Agnelli, diretor-presidente da Vale, resume o espírito dos grandes empresários. “A sociedade tem exigido [esse compromisso ambiental]”. De acordo com o executivo, qualquer empresa que esteja no mercado internacional hoje precisa colocar a questão das mudanças climáticas em seus planos estratégicos, sob pena de sofrer prejuízos reais.

O setor automobilístico, por exemplo, é um dos que estão na berlinda. Carros que poluem mais, como os a diesel, poderão deixar de ser lucrativos para os fabricantes caso ocorra uma taxação ao carbono extra lançado por esses automóveis. Em contrapartida, os veículos menores, a álcool, teriam até incentivos fiscais, por parte dos governos, para serem fabricados em maior quantidade.

Pré-Sal
A questão energética esteve também presente. Alguns comemoravam o avanço tímido da energia eólica na matriz brasileira. Outros, como o ministro Carlos Minc, tiveram que responder sobre a exploração do petróleo da camada pré-sal.

“Preferia que a matriz fosse outra. Mas uma vez que temos de explorá-la, o ideal é que haja mecanismos tecnológicos para evitar que o carbono seja lançado na atmosfera.” O ministro diz apostar na ainda incerta técnica de estocagem de carbono em cavidades naturais no fundo da terra. A técnica está sendo estudada, no Brasil, pela Petrobras. A incorreta exploração do petróleo na camada pré-sal, segundo Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos, fará com que a curva de emissões do Brasil, “a partir de 2015”, deixe de apontar para baixo.

Eduardo Geraque
Folha de S. Paulo