O Canadá anunciou nesta segunda-feira que está abandonando o Protocolo de Kyoto, acordo contra emissões de gases-estufa com o qual o país se comprometera até 2012.

O anúncio foi feito pelo ministro do Ambiente canadense, Peter Kent, assim que chegou a Ottawa vindo da conferência do clima de Durban, África do Sul, causou irritação à ONU.

Na conferência, representantes de quase 200 países –incluindo o Canadá– lançaram um processo para negociar um novo acordo global do clima para 2020 e concordaram em estender o acordo de Kyoto por um segundo período, até 2017 ou 2020.

O Canadá, dono da terceira maior reserva de petróleo do mundo (174 bilhões de barris recuperáveis nas chamadas areias betuminosas de Alberta) já havia dito que não entraria na segunda fase de Kyoto. Mas ontem tornou-se o primeiro país a sair do protocolo depois de tê-lo ratificado.

“Estamos invocando nosso direito legal de sairmos de Kyoto”, disse Kent a jornalistas. “Kyoto não representa um caminho adiante para o Canadá.”

Segundo ele, o acordo originalmente cobria menos de 30% das emissões do mundo. Hoje cobre 13%. “Kyoto não envolve os EUA e a China, então não tem como funcionar.”

Kent havia dito a jornalistas na última sexta-feira que as economias emergentes precisam de obrigações de corte de emissões. “As emissões dos países desenvolvidos estão caindo, mas as dos em desenvolvimento vão explodir até 2030”, afirmou.

As emissões do próprio Canadá, porém, subiram 16% desde 1990. O governo conservador do premiê Stephen Harper vinha dando sinais de que pularia fora do protocolo desde 2006.

O Canadá não implementou medidas para cumprir a redução de 6% nas suas emissões entre 2008 e 2012 em relação aos níveis de 1990 com as quais se obrigou sob o protocolo, e poderia levar uma multa de até US$ 14 bilhões por não cumprimento se não se retirasse do acordo, afirmou o ministro.

Segundo uma análise feita no mês passado pelo Instituto Pembina, um centro de pesquisas climáticas canadense, e pela ONG Germanwatch, o Canadá tem desempenho “ruim” ou “muito ruim” em 9 de 18 indicadores de política climática (apenas dois foram considerados “bons”).

Durante a última década, o país se converteu em um petroestado graças à exploração das areias betuminosas. Hoje é um dos maiores fornecedores de óleo para os Estados Unidos e negocia a construção de um polêmico oleoduto que levará centenas de milhares de barris por dia para refino no Texas.

A chefe da Convenção do Clima da ONU, Christiana Figueres, soltou nesta terça-feira um comunicado criticando a decisão canadense.

“Eu lamento que o Canadá tenha anunciado que sairá e estou surpresa quanto ao momento do anúncio”, afirmou Figueres.

“Quer o Canadá seja ou não uma parte do Protocolo de Kyoto, ele tem obrigação legal de reduzir suas emissões e obrigação moral consigo mesmo e com as gerações futuras em liderar o esforço global. Países industrializados cujas emissões tenham crescido significativamente desde os anos 1990, como o Canadá, permanecem numa posição fraca para pedir reduções de países em desenvolvimento.”

fonte:  folha de sp