O fracasso da Conferência do Clima de Copenhague revelou não só a incapacidade do mundo de chegar a um acordo a respeito de tema tão essencial, a preservação do lar da humanidade, como também pôs em xeque a Organização das Nações Unidas (ONU) como fórum de discussão para o assunto. Pelas regras da ONU, qualquer decisão de compromisso exige a concordância dos 193 países participantes. Isso se mostrou inviável na discussão climática.

O objetivo da conferência de Copenhague era elaborar um acordo para reduzir a emissão de gases que provocam o efeito estufa para que a temperatura do planeta não suba mais que 2oC até o fim do século. O acordo anterior, de 1997, celebrado em Kyoto, prevê um corte insuficiente na emissão de gases e não foi referendado pelos dois maiores poluidores, China e Estados Unidos.

Copenhague tinha a missão de corrigir esses erros e avançar. Mas falhou totalmente. Reuniões técnicas não correram como o planejado. Pontos que se acreditava pacificados foram reabertos. Tuvalu e outros estados insulares do Pacífico (ilhas Marshall e Maldivas) voltaram a defender limitar o aumento da temperatura global a 1,5 oC, patamar que muitos países consideram impossível cumprir. Só essa discussão atrasou em meio dia os debates.

Muitas das objeções eram legítimas. “É difícil argumentar com pessoas cuja terra natal vai desaparecer”, disse um negociador ouvido pelo “Financial Times”.

Quando os presidentes dos países chegaram a Copenhague, nos últimos dias da semana passada, o fracasso já era visível. As discussões em torno de temas importantes empacaram.

Os Estados Unidos e quatro dos maiores emergentes – China, Brasil, Índia e África do Sul – tentaram costurar um acordo de última hora, que acabou recebendo a adesão de um total de 25 países. Mas o texto estava longe do ideal, uma vez que não define como os países evitarão o aumento de mais de 2 oC da temperatura, nem estabelece compromissos com metas de redução de gases-estufa. Em relação ao fundo de financiamento de adaptação e mitigação dos problemas causados pelo AQUECIMENTO GLOBAL, não se especifica de onde virá o dinheiro.

Muitos países em desenvolvimento reagiram furiosamente ao que consideraram acordo imposto pelos mais poderosos. Já no início da reunião havia sido abortado um esboço de acordo apresentado pela Dinamarca, favorável aos países ricos.

Uma aliança bolivariana formada pela Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Cuba se posicionou implacavelmente contra, com a adesão de Tuvalu e o Sudão, que lidera o G-77.

As discussões se arrastaram até a manhã do sábado e ganharam lances dramáticos. Um representante da Venezuela chegou a cortar a própria mão para ilustrar como o sangue dos pobres respingava nos países ricos.

Ao final dos debates, o acordo não teve o consenso exigido pela ONU. Alguns de seus próprios pais renegaram o rebento. A China, que não quer ser supervisionada, disse que o acordo não era consensual. Para o presidente Lula, a incapacidade de os EUA se comprometerem com metas significativas impediu o avanço.

Maturidade e altruísmo faltaram às nações. Cada país terá custos elevados para se adaptar a uma economia de baixo carbono em prol do benefício comum. Há responsabilidades passadas a assumir e compromissos com as gerações futuras. Como em um jogo de cartas, ninguém quer mostrar as suas antes de ver as dos demais.

O fracasso da CoP-15 não indica, porém, um retrocesso na busca de uma economia de baixo carbono. Um dos principais saldos positivos da reunião foi evidenciar as falhas da ONU como fórum adequado para o debate. Talvez a discussão possa ser retomada em uma arena menor, como o G-20, que reúne as 19 economias mais importantes mais a União Europeia. Outra proposta na mesa é do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que sugeriu a criação de um órgão global para o gerenciamento de políticas ambientais e monitoração do cumprimento das metas. No entanto, parece justo que países particularmente afetados, como Tuvalu, sejam ouvidos.

Essa, com certeza, será a principal discussão até a CoP-16, que será realizada no fim de 2010 no México, para que, enfim, se volte ao cerne da questão, que é evitar o AQUECIMENTO GLOBAL.

VALOR ECONÔMICO -SP