Por segurança, governo vai alterar a gestão do sistema elétrico e aumentar o nível dos reservatórios das hidrelétricas

Mudança trará custo adicional de R$ 250 mi a R$ 300 mi, que será repassado à conta paga pelos consumidores

AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A FOZ DO IGUAÇU (PR)

O governo se prepara para anunciar nos próximos dias uma mudança importante na operação do sistema elétrico.
A medida, que tem finalidade de ampliar a segurança energética, vai provocar ligeiro aumento na tarifa para os consumidores.
O atraso na operação de oito termelétricas -cinco delas do Grupo Bertin- obrigará o governo federal e o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) a elevar o nível-meta dos reservatórios das usinas hidrelétricas das regiões Sudeste/Centro-Oeste e do Nordeste em 2011.
É a primeira vez que autoridades do setor reprogramam a geração do país nessa escala por causa do descumprimento de prazos por empreendedores que assumiram projetos termelétricos.
Segundo relatório da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), 20% das usinas contratadas estão atrasadas e não têm previsão para entrar em operação.
As oito termelétricas, que deveriam entrar em operação entre este ano e o início de 2012, tiveram a operação postergada para junho de 2012 e fevereiro de 2013.
Com isso, o ONS não poderá contar com 356 MW neste ano (suficientes para uma cidade de 1,3 milhão de habitantes) e mais 1.080 MW em 2012. Isso obrigou o governo a ampliar, por segurança, o nível dos reservatórios.
Essa mudança deverá ter custo adicional entre R$ 250 milhões e R$ 300 milhões para a tarifa de energia elétrica dos consumidores brasileiros em 2012.
Esse custo refere-se à necessidade de geração térmica exclusivamente para economizar água nos reservatórios a partir de agora, quando começa o período seco.
Com isso, o custo da troca da geração hidrelétrica pela termelétrica ficará em R$ 500 milhões no ano (de R$ 200 milhões a R$ 250 milhões já previstos mais o custo adicional entre R$ 250 milhões e R$ 300 milhões). Em períodos mais críticos, essa conta já chegou a R$ 2,3 bilhões.
Segundo o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste (operados em conjunto) devem alcançar no final de novembro um volume entre 45% e 46% do nível de armazenagem. A meta do ano passado foi de 42%.
Já a reserva hídrica nas barragens das usinas nordestinas deve variar de 31% a 32% em novembro. No ano passado, a meta era de 25%.
Esse mecanismo, criado em 2007, garante uma gestão mais precisa da capacidade de geração de energia.
Dessa forma, as autoridades do setor elétrico ampliam a proteção contra eventuais verões com pouca chuva.
Não foi o caso deste ano, quando as chuvas atingiram ou superaram as médias históricas em todas as regiões.
Essa situação de crise por falta de chuvas já foi experimentada pelos brasileiros. Em 2001, o país foi obrigado a racionar energia em razão da falta de água nos reservatórios. Em 2007 e 2008, o Brasil voltou a enfrentar esse problema.
Apesar de cara, a construção de uma base de geração termelétrica permite essa manobra no sistema elétrico.

DECISÃO
O ONS deve concluir até o fim deste mês e remeter ao CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) uma proposta sobre como pretende operar os reservatórios de julho a novembro.
“Estamos terminando os cálculos. Esses percentuais para as metas do nível dos reservatórios serão definidos nos próximos dias, mas não deverão ser muito diferentes desses”, disse Chipp.

fonte: Folha de SP