Apesar de possuir matriz energética basicamente oriunda de hidrelétricas, o Brasil já é o décimo país melhor colocado no ranking mundial de energia solar, atrás apenas de China, Israel, Áustria, Índia, Turquia, Alemanha, Japão, Estados Unidos e Austrália. Os dados são da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento/Departamento Nacional de Aquecimento Solar (Abrava/Dasol).
Além da alta incidência do astro-rei nas cinco regiões brasileiras, o país também é dotado das matérias primas utilizadas na fabricação dos equipamentos: cobre, alumínio, aço inoxidável, vidro e termoplásticos, um indicativo de que o Brasil tem toda a infraestrutura para desenvolver a tecnologia e bons negócios no setor.
De acordo com a Abrava/Dasol, a cadeia produtiva de tecnologia solar brasileira conta com aproximadamente 200 empresas, das quais a maioria produz reservatórios térmicos e coletores solares (ou placas) – cerca de 80% delas são micro e pequenas empresas, concentradas nas regiões Sudeste (principalmente) e Sul.
Atualmente, há cerca de um milhão de estabelecimentos públicos, comerciais, industriais e residenciais que adotaram o mecanismo tecnológico voltado para a energia do sol. A maior fatia está no segmento residencial (66%), seguido pelas piscinas (17%).
“A energia solar térmica, usada para o aquecimento de água, é considerada uma tecnologia com boa entrada no mercado nacional. Ela foi valorizada nos últimos anos devido aos seus atributos de baixo custo e preservação do meio ambiente”, destacou à Agência Sebrae o gestor da Abrava/Dasol, Marcelo Mesquita. No exemplo citado por ele, a energia solar substitui o gás e a eletricidade no aquecimento de água, seja no setor industrial, de comércio e serviços, como também em residências.
No entanto, a tecnologia ainda engatinha no Brasil, embora o país possua excelentes condições propícias. Na Europa, as políticas públicas incentivam a utilização dessa fonte alternativa de energia há décadas. Só para se ter ideia, a cultura da sustentabilidade energética já pode ser considerada evoluída mesmo em nações distantes do “velho continente”. No Chipre e em Israel, 95% das casas usam aquecedores solares, realidade que atinge 35% dos lares austríacos.
“Sol está para todo o mundo”
A recomendação do governo federal para que as moradias do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida sejam construídas com sistemas de aquecimento de água através da energia solar tem impulsionado o mercado do setor no Brasil. Segundo matéria publicada pela Agência Sebrae no domingo, 23 de maio, mais de 13 mil propostas referentes ao financiamento de imóveis residenciais com aquecimento solar no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país já foram recebidas até o momento.
“É de extrema importância para a sociedade a decisão do governo, a exemplo do que já ocorre em vários países, de incluir os sistemas de aquecimento de água por meio de coletores solares nas casas construídas pelo programa”, afirmou Mesquita. Outro especialista no assunto, o diretor da Maxtechsolar, pequena indústria de equipamentos de aquecimento solar de Guarulhos (SP), Cláudio Wu, as famílias poderão economizar e fazer poupança com o valores das contas mensais de eletricidade. ¿O sol está para todo mundo e todas as classes sociais”, comemorou.
Segundo o empresário chinês de cidadania brasileira, um metro quadrado (m²) de luz solar pode gerar em torno de 3 kilowatts/hora/dia, equivalente a 80 kilowatts/mês. No Brasil, são necessários apenas 2 m² de placa (coletores solares) para captar a energia necessária para aquecer a água consumida por uma família com quatro pessoas. Em média, o sistema em uma casa com tal número de indivíduos custa entre R$ 1 mil e R$ 1,2 mil. Wu estimou que o custo do equipamento pode ser pago com a poupança propiciada pela economia de um ano de conta de luz elétrica.
“Ao economizar cerca de R$ 100 por mês em luz, durante 12 meses, o equipamento estará pago¿, argumentou o empresário. Como os equipamentos são feitos para durar 20 anos, o aquecimento solar praticamente iria zerar a conta de luz durante 19 anos, levando-se em conta o raciocínio do diretor da Maxtechsolar.
Copa e Olimpíadas sustentáveis
A realização de eventos esportivos de grande porte no Brasil, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, também animam os empresários do setor de energia solar. “O desafio é fazer dois grandes eventos ‘verdes’, e para isso a energia solar térmica dará sua contribuição com atributos adicionais de menor custo, energia no ponto de uso e geração de postos de trabalho para mão de obra especializada”, projetou Marcelo Mesquita.
Ele acredita que a alternativa de energia renovável pode estar disseminada em hotéis, restaurantes, ginásios esportivos, estádios e hospitais do país nos próximos anos. “Temos uma verdadeira usina solar limpa e gratuita, funcionando o ano todo, em todas as regiões. Sem sombra de dúvida, é a melhor opção em termos ecológicos e da sustentabilidade do que as hidrelétricas.”
A energia solar se divide em dois segmentos: solar térmico, voltado apenas para o aquecimento de água, e fotovoltaica, que utiliza coletores solares para gerar voltagem ou eletricidade (pouco desenvolvido no país). Nos países mais industrializados, a energia fotovoltaica já é bastante utilizada pelos principais setores da sociedade.
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