Peso descomunal da China e diferenças internas no fórum de emergentes reduzem chance de ação conjunta em temas de interesse do Brasil

É crescente o impacto midiático dos encontros dos cinco países do Brics -Brasil, Rússia, Índia, China e, agora, África do Sul. O grupo, que soma 18% da economia e quase metade da população mundial, acaba de realizar sua terceira reunião de cúpula desde 2009.
Neste ano, o simbolismo da reunião dos cinco chefes de governo foi acentuado por ela ter coincidido com a advertência inédita do Fundo Monetário Internacional sobre o gigantesco deficit fiscal dos EUA (11% do PIB), ainda a superpotência econômica e militar.
Tais cifras, porém, não devem turvar uma avaliação sóbria dos limites da ação do Brics em temas de interesse do Brasil. De início, vale notar que, apropriadamente, o grupo se denomina um fórum, não uma aliança ou um bloco.
Os limites estão dados, em primeiro lugar, pelas assimetrias internas. A China, sozinha, responde por metade do PIB conjunto dos cinco países. Rússia, China e Índia são potências nucleares; com o ingresso da África do Sul, o Brasil deixou de ser o único que não tem a bomba atômica.
As diferenças de poderio militar e econômico têm como complemento interesses também divergentes. Basta citar os efeitos da moeda chinesa desvalorizada, que o Brasil promete incluir em pedido de investigação sobre a “guerra cambial” a ser apresentado à OMC (Organização Mundial do Comércio).
Na própria OMC, a Índia tem posições mais protecionistas que Brasil e China. A África do Sul foi admitida como representante do continente africano, onde brasileiros e indianos disputam oportunidades com os chineses.
Em 2010, China e Rússia apoiaram nova rodada de sanções contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU, aliando-se aos EUA e afastando-se de Brasil e Turquia.
Isso não significa que o Brics careça de relevância. A renda per capita no grupo é muito inferior à das potências do G7; a necessidade de desenvolvimento partilhada pelos cinco emergentes cimenta posições comuns sobre regulamentação financeira e redução do predomínio americano-europeu no FMI e no Banco Mundial.
No Conselho de Segurança -onde Brasil, Índia e África do Sul ocupam neste ano vagas rotativas-, os países do Brics têm posições afins. Quatro deles se abstiveram na votação que autorizou a confusa intervenção militar na Líbia, posição que se revelou prudente e acertada. Mas o grupo ainda atua de forma reativa e deixa a agenda do órgão ser ditada por EUA, França e Reino Unido.
O fórum Brics é característico de um momento da política internacional em que predominam as ditas “coalizões de geometria variável”, com configurações de alianças redefinidas conforme o tema e a conjuntura. Para o Brasil, é melhor estar dentro do Brics, pois a associação com outros “países-baleia” -com grandes população, território e mercado- garante participação em mais um polo de poder geopolítico, ainda que em estágio inicial de formação.

fonte: Folha de Sp